quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O CIÚME E O FEITIÇO

Era uma vez…
Havia na aldeia do Kuteca uma mulher muito ciumenta, cujo marido, já velho, saia todas as noites sem nunca dizer para aonde ia. A mulher sempre que lhe perguntasse sobre as suas saídas ele respondia:

- É melhor não saberes onde vou. Olha que isso é para o teu próprio bem.

Mas a senhora, Milika de seu nome, já desconfiada de algo que não sabia e nem entendia, fez um plano e falou consigo mesma:
- Hoje, quando ele pretender sair, vou seguiu-lo para saber aonde tem ido e o que tem feito.

De noite, quando Kavindi chegou, deu-lhe o jantar: funje com bagre fumado e lombi . Depois do repasto, o homem decidiu-se em sair como de costume.

De pianinho, sem fazer-se perceber, Milika começou a segui-lo. O homem atravessou a aldeia e entrou no sertão. Chegado ao muzungu, o chefe dos feiticeirtos disse-lhe:

- Homem, estás a ser seguido!

- Eu? Não. Vim sozinho e com muito cuidado como sempre. - Respondeu ele.

Perante a insistência dos colegas, Kavindi ordenou que se revistasse o matagal e a mulher foi descoberta, escondeida atrás de uma bananeira.

- Por teres desfeito o nosso segredo também te tornas feiticeira. - Disseram-lhe.

- Não, por favor. Eu não posso ser feiticeira. Sou religiosa e toda a minha família requenta a igreja. – Suplicou ela.

- Então terás de morrer.- Sancionaram em coro.
- Por favior, tenho filhos pequenos.
Perante as súplicas da senhora, os homens deixaram-na partir, mas com o decorrer do tempo Milika começou a adoecer. Frequentava os melhores hospitais da região mas nunca mehorava, definhando cada vez mais, até que contou a verdade ao soba da aldeia sobre o que tinha feito e o que tinha descoberto na mata cerrada.

Milika pediu antes que todos os aldeões se reunissem no jango, à volta de uma enorme fogueira, e contou:

- Sei que vou morrer. A minha morte será por ter sido ciumenta e curiosa, chegando a descobrir um segredo que era apenas do meu marido, mesmo tendo ele me pedido que não o fizesse. Como não aceitei morrer no local nem tornar-me feiticeira, tenho esta penitência: a morte lenta.

E ela morreu.

Por sua vez, uma vez descobertos pela comunidade, os feiticeiros foram jogados à fogueira pela população reunida em torno do soba Mbembwa-yo-Cily .