sábado, 2 de abril de 2011

A MADRASTA TETÉ

ERA UMA VEZ…

Kibocolo é uma pequena vila do Uige. Uige é uma província do norte de Angola onde se planta muito café e muita mandioca também.

Na vila de Kibocolo vivia uma senhora cujo nome era Teté. A senhora era viúva tal como o senhor Jota-Jota que era pai da Joaninha.

Joaninha era uma menina de sete anos cuja mãe tinha falecido num acidente que até hoje ainda ninguém dos habitantes da vila sabe explicar. Como a menina precisava de cuidados de uma mãe, o seu pai decidiu-se casar novamente e dar a sua filhinha aos cuidados de dona Teté, a sua nova esposa.

Apesar de muito meiga e cumpridora dos seus deveres, Joaninha era muito maltratada pela madrasta e até privada de ir à escola. Sempre que chegasse o tempo de apanhar salalé era a ela que recaía esta missão difícil no meio do capim alto e muitos mosquitos que lhe podiam transmitir o paludismo e outras doenças da pele. Mas a menina mesmo sabendo que aquilo lhe podia fazer mal não incumpria.

Como o salalé era muito apreciado, a madrasta comia todo, contentando-se a menina com os restos. Tudo era feito na ausência de Jota-Jota que por ser pastor de gado ausentava-se frequentemente de casa para alimentar os seus rebanhos.

Um dia, Jota-Jota decidiu abandonar Kibocolo e mudar-se para Sanza Pombo que tinha prados com muito capim fresco para alimentar os cabritos e os carneiros. Como no quintal da nova casa havia uma figueira a madrasta incumbiu à Joaninha controlar a árvore de modo que ninguém roubasse os apetitosos figos.

Quando começaram as aulas Joaninha deixava a figueira desprotegida e os pássaros aproveitavam fazer a sua festa. Certo dia apareceram tantas aves famintas que acabaram com os figos todos. Foi um dia triste.

Ao chegar da escola, Joaninha apercebeu-se que a figueira estava sem frutas e muitas estavam espalhadas pelo chão. Começou a temer pelas represálias da madrasta que era muito má.

Dona Teté nem sequer deu ouvidos à menina e começou a bater nela até desmaiar. Temendo ser surpreendida pelo marido, a madrasta pegou o corpo da menina e o enterrou com vida longe da aldeia, num sítio de passagem do gado para a pastagem.

Chegado à casa, Jota-Jota notou a ausência da sua filhota e perguntou:

- Onde está a Joaninha?

- Foi ao rio acarretar água. – Respondeu ela a fingir.

Passado algum tempo Jota-Jota voltou a perguntar.

- Teté, onde foi que mandaste a criança?

- Já te disse Jota, foi ao rio. Sabes como é irresponsável a tua filha. Deve estar na brincadeira com as amigas. – Voltou a responder a senhora.

Preocupado, Jota-Jota meteu-se a caminho do rio e não encontrou a filha. Chegado à casa voltou a perguntar e a e mulher respondeu:

- Se não está no rio, também não sei aonde foi. Deve ter desaparecido.

Passados meses, no lugar onde a menina fora enterrada cresceu muita relva e sempre que os pastores por lá passassem acompanhando o gado ouviam uma estranha canção saída da mata.

Oh pastor do meu papá

Não cortes o meu cabelo

Minha mãe me criou

Minha madrasta me matou

Só por causa da figueira

Cujos figos não tirei.

Os pastores abandonaram o gado e correram à casa para contar o sucedido ao patrão Jota-Jota que decidira ir às compras na cidade de Carmona .

Suspeitando que estivesse quase a ser descoberta Teté mandou de imediato os pastores voltarem ao pasto, mas estes recusaram-se, e decidiram aguardar pelo patrão.

- Vocês sabem que o gado não pode ficar na aldeia, por que razão está aqui? – Perguntou ela ameaçando-os.

Os homens mantiveram-se calados e nada responderam. Teté ainda tentou inventar que os pastores tinham voltado à casa com o gado incompleto o que fez Jota-Jota dirigir-se mal aos seus trabalhadores.

O mais velho dos pastores chamou o patrão a um canto isolado e contou-lhe da música estranha que ouviram a caminho do pasto. Jota-Jota ainda tentou duvidar mas o pastor mais novo repetiu a canção;

Oh pastor do meu papá

Não cortes o meu cabelo

Minha mãe me criou

Minha madrasta me matou

Só por causa da figueira

Cujos figos não tirei.

Jota-Jota juntou os retalhos da história e concluiu que algo de mal se tinha acontecido com a sua filhinha. Rumou com os pastore ao local e mal o gado começou a comer a relva ouviu-se de novo a canção entoada por uma voz parecida à da Joaninha.

Concluiu então que dona Teté tinha morto a sua única filha querida.

Chegado à casa perguntou-lhe:

- Por que me disseste que a minha filha tinha desaparecido quando na verdade a mataste por causa dos figos?

Dona Teté, sem desculpas, começou a chorar implorando por perdão. Jota-Jota ordenou aos seus empregados que a amarrassem para não fugir e foi chamar a polícia que aprendeu, sendo condenada por muitos anos de cadeia.