segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O CÃO RAFEIRO DA RUA DA LIBERDADE

Na cidade de Ondjiva, Twayovoka era o cão mais rafeiro da rua da Liberdade. Lutava por tudo e nada e tinha as orelhas todas estraçalhadas devido às arranhaduras e mordeduras que já sofreu. De longe, as marcas das feridas e os buracos nas orelhas pareciam argolas.

Twendi ko Vaso, o seu amo, até já quis se desfazer dele mas a dona Nsingi, uma senhora do Zaire que gostava de cães, impediu que Twayovoka fosse morto e prometeu ficar com ele caso Twendi ko Vaso insistisse em matá-lo.

O surgimento de uma cadela em período de cio era motivo para Twayovoka se envolver em brigas com outros canídeos que se fizessem à rua. As suas lutas demoravam horas ou mesmo o dia todo e Twayovoka, o cão mais rafeiro, como também era conhecido, só deixada de brigar quando chegasse o seu amo ou a dona Nsingi. E não era fácil separá-lo dos outros cães da cidade. Era preciso dar-lhe um pedaço de frango ou um osso qualquer. A briga só terminava ao fugir dos outros, para que não cobiçassem o seu lanche.

Certa vez, numa das suas brigas, Twayovoka enfrentou um cão polícia que não lhe deu tréguas. A sua fama de melhor lutador tinha terminado, pois o cão polícia, que era enorme, enrolou Twayovoka como se fosse uma bola e o arrastou por muitos metros. Até as cadelas que preferiam o aguerrido Twayovoka tinham deixado de gostar dele. Não se sabe ainda se foi por causas das suas frequentes brigas ou se foi por causa daquela surra que apanhou do cão polícia.

Mas a grande cena do Twayovoka foi mesmo quando a vizinha Nsingi lhe ofereceu um grande osso de vaca.

Twendi ko Vaso, o seu amo, estava ausente em gozo de férias na Lunda Norte e Twayovoka, que era odiado pela vizinhança, passava fome.

Zelosa, como sempre, a dona Nsingi, que também era assistente de veterinário , decidiu dar-lhe uma segunda oportunidade. Deu-lhe um osso, ainda com alguma carne, e o cão, com o osso na boca, meteu-se em correrias para o outro lado do rio Kunene.

Foi então que ao atravessar a ponte, viu a sua imagem reflectida na água. Ambicioso como era, Twayovoka pensou que fosse um outro cão que o perseguia para lhe receber o osso.

Para afastar aquele que pensava ser o seu inimigo, o cão guloso ladrou e o osso escapou-lhe da boca, caindo na água.

Faminto e aflito, o cão jogou-se rio abaixo, mas a corrente era tão grande que Twayovoka foi arrastado até a uma grande queda onde havia jacarés.

Sem como escapar daqueles famintos répteis, Twayovoka serviu de almoço dos jacarés que tiveram um dia de muita festa.

Com a morte de Twayovoka, as lutas entre cães vadios diminuíram na cidade de Ondjiva e os meninos que frequentavam a escola deixaram de ser atacados por cães raivosos que eram muitos no tempo de Twayovoka.