Era uma vez, num lugar bem fundo, no mar do Amboim …
Vivia um peixe muito belo e inteligente de nome Rosa. A Rosa, que tinha as barbatanas cor-de-rosas, era tão esbelta que provocava a inveja a todos os demais elementos do seu cardume, principalmente as fêmeas. Entre elas, as fêmeas, ouvia-se sempre um murmúrio mas que nunca se pronunciava de forma aberta e directa.
- Quem ela pensa que é? Uma espécie rara? - Diziam as invejosas.
Rosa, com a sua beleza ímpar, e sempre perfumada com as melhores fragrâncias que retirava das algas marinhas, desfilava pelas águas profundas do mar de Amboim. A sua inteligência permitia dar sempre conta da inveja das companheiras e das “rasteiras” que preparavam para a prejudicar, bem como das iscas e das redes lançadas pelos homens para a pescar. É que a sua fama chegava até água acima, aos homens que procuravam por peixes raros e de cores diversificadas.
- Pôças, essa gata é uma brasa! – Diziam os peixes machos, todos eles galanteadores, deixando as companheiras de Rosa totalmente possuídas de ciúmes.
Com tantos elogios, inteligência e galanteios, Rosa ganhou uma inimiga declarada e determinada em eliminá-la do cardume. Era a Cinzenta. Tão feia e tão desarranjada que não havia ser vivente no mar que se parecesse a ela. A Feiosa, como era conhecida no grupo, chegava a inventar mentiras contra a Rosa.
Certo dia, havia sol aberto na terra e os pescadores resolveram ir à pesca. Era um dia perfeito para muita faina. Os homens, munidos de canoas, redes e anzóis, remaram para o mais distante possível da costa, a fim de encontrar os cardumes que no fundo do mar festejavam a clareza da água.
Num sítio em que a ausência de ondas denunciava a presença de muitos peixes, os homens lançaram as suas redes ao mar, sem se darem conta de um buraco na rede principal, aquela que tinha um tamanho menor do que o corpo de Rosa e única que a podia capturar.
Mais uma vez, a Cinzenta vendo que os machos estavam todos à volta de Rosa ficou coberta de inveja e retirou-se do sítio em que estavam, para mais fofoquinhas com as suas amigas que combinavam junto a um monte de pedras e conchas mais uma armadilha para prejudicar a Rosa. Foi no mesmo instante que os pescadores lançaram a rede ao mar apanhando-a de surpresa.
- Socorro, socoooorrrrooooooooooooo! - Gritava a Cinzenta aflita, sem poder se libertar da linha que lhe apertava as guelras.
- Oh, que azar! - Exclamaram os peixes ao lado, sem nada poderem fazer.
- Quem a vai ajudar? - Perguntavam-se uns aos outros, sem que alguém desse o primeiro passo.
Foi aí que Rosa, mesmo sabendo que corria o risco de também ficar presa entre a rede dos pescadores, desfez-se dos companheiros e lançou-se à empreitada de salvação da Cinzenta que apenas mexia a cauda, já sem forças para se libertar nem para gritar.
Rosa, a inteligente, reparou que a rede tinha dois buracos. Entrou com jeito por um deles e pediu a Cinzenta que deixasse de respirar e puxasse o corpo para traz. Feito isso, pediu à invejosa Cinzenta que a seguisse sem se desviar da rota e ambas conseguiram sair pelo outro buraco que havia na rede.
Salva e muito feliz, Cinzenta deu um beijo à Rosa como forma de agradecimento.
- És muito melhor do que eu pensava. – Disse Cinzenta. – Desculpa-me por tudo que te fiz de mau. Aceitas?
- Desculpas aceites, amiga. - Respondeu Rosa sorridente.
Posto isso, as duas partiram abraçadas para um passeio bem mais seguro, entre rochas onde nunca seriam apanhadas por uma rede lançada por pescadores.