segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O PEIXE COR-DE-ROSA

Era uma vez, num lugar bem fundo, no mar do Amboim …

Vivia um peixe muito belo e inteligente de nome Rosa. A Rosa, que tinha as barbatanas cor-de-rosas, era tão esbelta que provocava a inveja a todos os demais elementos do seu cardume, principalmente as fêmeas. Entre elas, as fêmeas, ouvia-se sempre um murmúrio mas que nunca se pronunciava de forma aberta e directa.

- Quem ela pensa que é? Uma espécie rara? - Diziam as invejosas.

Rosa, com a sua beleza ímpar, e sempre perfumada com as melhores fragrâncias que retirava das algas marinhas, desfilava pelas águas profundas do mar de Amboim. A sua inteligência permitia dar sempre conta da inveja das companheiras e das “rasteiras” que preparavam para a prejudicar, bem como das iscas e das redes lançadas pelos homens para a pescar. É que a sua fama chegava até água acima, aos homens que procuravam por peixes raros e de cores diversificadas.

- Pôças, essa gata é uma brasa! – Diziam os peixes machos, todos eles galanteadores, deixando as companheiras de Rosa totalmente possuídas de ciúmes.

Com tantos elogios, inteligência e galanteios, Rosa ganhou uma inimiga declarada e determinada em eliminá-la do cardume. Era a Cinzenta. Tão feia e tão desarranjada que não havia ser vivente no mar que se parecesse a ela. A Feiosa, como era conhecida no grupo, chegava a inventar mentiras contra a Rosa.

Certo dia, havia sol aberto na terra e os pescadores resolveram ir à pesca. Era um dia perfeito para muita faina. Os homens, munidos de canoas, redes e anzóis, remaram para o mais distante possível da costa, a fim de encontrar os cardumes que no fundo do mar festejavam a clareza da água.

Num sítio em que a ausência de ondas denunciava a presença de muitos peixes, os homens lançaram as suas redes ao mar, sem se darem conta de um buraco na rede principal, aquela que tinha um tamanho menor do que o corpo de Rosa e única que a podia capturar.

Mais uma vez, a Cinzenta vendo que os machos estavam todos à volta de Rosa ficou coberta de inveja e retirou-se do sítio em que estavam, para mais fofoquinhas com as suas amigas que combinavam junto a um monte de pedras e conchas mais uma armadilha para prejudicar a Rosa. Foi no mesmo instante que os pescadores lançaram a rede ao mar apanhando-a de surpresa.

- Socorro, socoooorrrrooooooooooooo! - Gritava a Cinzenta aflita, sem poder se libertar da linha que lhe apertava as guelras.

- Oh, que azar! - Exclamaram os peixes ao lado, sem nada poderem fazer.

- Quem a vai ajudar? - Perguntavam-se uns aos outros, sem que alguém desse o primeiro passo.

Foi aí que Rosa, mesmo sabendo que corria o risco de também ficar presa entre a rede dos pescadores, desfez-se dos companheiros e lançou-se à empreitada de salvação da Cinzenta que apenas mexia a cauda, já sem forças para se libertar nem para gritar.

Rosa, a inteligente, reparou que a rede tinha dois buracos. Entrou com jeito por um deles e pediu a Cinzenta que deixasse de respirar e puxasse o corpo para traz. Feito isso, pediu à invejosa Cinzenta que a seguisse sem se desviar da rota e ambas conseguiram sair pelo outro buraco que havia na rede.

Salva e muito feliz, Cinzenta deu um beijo à Rosa como forma de agradecimento.

- És muito melhor do que eu pensava. – Disse Cinzenta. – Desculpa-me por tudo que te fiz de mau. Aceitas?

- Desculpas aceites, amiga. - Respondeu Rosa sorridente.

Posto isso, as duas partiram abraçadas para um passeio bem mais seguro, entre rochas onde nunca seriam apanhadas por uma rede lançada por pescadores.

Texto de Judith Pinto Carlos com adaptações de Soberano Canahnaga