terça-feira, 2 de outubro de 2012

BRANCA COMO A NEVE


 1-      BRANCA COMO A NEVE
Este conto é parte do livro "As travessuras do Jacinto"

Jacinto era um rapaz de 13 anos, adolescente hábil, que executava que executava as tarefas com rapidez e rigor. Nunca fugia à luta. Dada a sua inteligência, percebia as missões que lhe eram incumbidas e as executava ao pé da letra.

Vivendo com a avó no período de férias escolares, certo dia Nakulu que ia manhã cedo á lavra, ordenou:

- Oh neto!

- Avó! - Respondeu ele, sempre pronto.

- Estou a deixar a mocroeira[1] na tarimba. Se por acaso chover, luta com a chuva! – Retirou-se a velha cambaleante, descendo o monte que separa a aldeia da lavra.

- Ordem dada, ordem acatada, avó. - Respondeu Jacinto.

A velha Nakulu e as amigas foram cantarolando a caminho da naka enquanto Jacinto se preparava para a peleja. O céu estava carregado de nuvens. Umas eram brancas, outras cinzentas e outras ainda escuras parecendo fumo preto. Fazia remoinho no céu. Longe, não muito longe, ouviam-se estrondos que recordavam a guerra do passado. Os trovões que anunciavam a chegada da água pareciam explosões de obuses.
Jacinto começou então a juntar paus e pedras. Teria uma luta renhida com a chuva.

Mal caiu a primeira gota, Jacinto começou a jogar os paus e as pedras que tinha junto de si contra a chuva que gotejava cada vez com maior intensidade.

A última pedra lançada correspondeu à última gota.

- Balas terminadas inimigo vencido! – Disse Jacinto para si mesmo.

Não tardou a chegada da velha Nakulu que ao ver o neto todo exausto perguntou:

- Porquê deste aspecto sujo e sofrido?
- Avó! Lutei com a chuva conforme recomendou ao ir para a lavra.
- E a macroiera?
- Calculo que esteja no lugar. Nem houve tempo para a ver, pois a luta não foi fácil.

Dito isso, a velha meteu-se aos prantos e a reclamar da tristeza que era o seu neto.

O assunto foi motivo de comentários durante semana e meia na aldeia e teve de ser julgado pelo soba dadas as represálias que a velha infringia ao neto por ter deixado a chuva arrastar a sua macroeira.

Lei Para Todos, o soba de Muxaluando[2], convocou todo o povo da aldeia. Chamou os que tinham formação académica e aqueles que não tinham estudado. Buscou estórias do passado em que ordens mal dadas foram também mal acatadas e resultaram em prejuízos para a população. Depois da análise do caso, os notáveis[3] da aldeia deram razão ao menino Jacinto, pois a ordem para a recolha do bombó à chegada da chuva fora mal dada.

 

 



[1] Pedaços de mandioca humedecida e triturada para secagem.
[2] Município da província angolana do Bengo.
[3] Os chefes da aldeia; os responsáveis.