sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O AMIGO DO CAMARADA ANTÓNIO JACINTO


No meio da floresta densa, Mwata Cikambi e seus parentes ergueram um vilarejo com cerca de quinhentas almas. O átrio estava arreado. Flores silvestres engalanavam a parede que expunha quadros de figuras políticas do contexto estadual e internacional. Olhando para a parede, frontal à vista da população e onde se acomodava a mesa do presidium, Mwa Cikambi, o anfitrião, começou por apresentar ao povo os presentes, depois os ausentes vivos e os ausentes finados.

- Povo, Gi!

- Gi! - Respondeu eufórico e na mesma bitola.

- Este é o nosso novo comissário. O nome dele é Satula Muryanga. Uma salva de palmas para o nosso chefe. - Solicitou.

- Puá, puá, puá! - O povo correspondeu com três salvas sincronizadas.

- Com o comissário veio também a sua camarilha. Peço que se levantem para que o povo vos conheça. – Prosseguiu o regedor na sua apresentação.

- Puá, puá! – Ouviram-se duas salvas de palmas mais brandas.

-Povo! Aqui na parede, sob o olhar silencioso de Lénine que está aqui, - mostrou a foto do pai da Revolução Socialista de Outubro – está o camarada Manguxi. – Mwata Cikambi fez uma pausa mais prolongada para aguardar pelas habituais salvas de palmas.

O povo assobiou de contente e soaram estridentes rajadas de palmas antes inaudíveis.

- Ele é pai grande. – Gritaram alguns jovens mais espevitados, referindo-se ao finado camarada Manguxi.

- Aqui, ao lado do camarada Manguxi - prosseguiu Cikambi – está atento e silenciosamente o camarada António Jacinto do Amaral.

- Puá, puá, puá! - Novamente uma tripla rajada de palmas que serviram como barómetro do auditório.

Cikambi desvia o olhar para a foto seguinte, a de Marx de quem não se recorda o nome, e anuncia:

- Este último, um camarada também importante na história da nossa luta, é o camarada… - tentou buscar o nome ou uma ajuda mas não a obteve e continuou – é o camarada amigo do camarada Jacinto Amaral.

Nisso o povo que até ali se tinha comportado de forma urbana começou a gritar: “o nduko; o nduko yaye?! [1]”.
 
O comissário teve de intervir...

Extracto do livro PREDESTINADOS (no prelo)


[1] O nome; o seu nome?! (do umbundu).