quarta-feira, 2 de abril de 2025

SERÁ QUE A MATOU?!

A semana tinha sido difícil. Estressante. A cidade parecia respirar com esforço, como se cada esquina carregasse o peso de uma espera silenciosa. A manhã daquela sexta-feira 13 acordou agoirenta, com um presságio no ar — algo incomum devia acontecer.

O sol, tímido, espreitava por entre nuvens pesadas. A tarde arrastava-se como um velho cansado. Veio o frio. Gélido. Correu com as crianças e os idosos aposentados de todas as lutas para dentro de suas casas. Os casais aconchegaram-se em suas mabata, de onde, minutos depois, se ouviam sussurros religiosos soltos aos ventos:

— Ai, meu Deus!
— Oh, meu senhor!
— Vem, meu cavalheiro, rasga-me esse coração!
— Aperta-me, cabrão!
— Allahu Akbar!

Na festa dos sobrados, a música gritava ao vento aberto. O álcool entorpecente cantava nas veias dos presentes. Vivia-se um comunismo primitivo. Todos eram de todos, até a Feiosa. Dançavam como loucos. Mediam-se olhares e toques. Légua a légua, percorriam distâncias enquanto tarrachavam ao ritmo da música.

Ela estava lá. A mulher de olhos de fogo e passos de felino. Agressiva como uma leoa ferida. Ele também. Calmo, tranquilo, mas desperto como um grilo estridente ao pé da toca. Os olhares cruzaram-se. Não houve palavras. Apenas o silêncio cúmplice dos que sabem o que querem.

Ela pegou-lhe o martelo. Ele, sem hesitar, kibyonou-lhe o eréctil médio que percorreu aceso o córrego húmido e carente. Transbordante de desejos, puxou-o para um canto em meia luz. Prostrada, baixou a cortina e declamou doce e ciosa:

— Acaba de me matar!

Silêncio. O tempo parou. A música continuava lá fora, mas ali, naquele canto, o mundo havia suspendido a respiração. Teria ele obedecido? Teria ela sobrevivido à própria entrega?

A sexta-feira 13 não respondeu. Apenas seguiu, fria e misteriosa, como sempre.