sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

O ABRIDOR DE SALÃO

Nasceu na fronteira entre o asfalto e o museke (musseque). Estudou também no bairro e na industrial onde se fez homem culto e respeitado.
Costa, sua graça de baptismo, soa em muitos   lugares e países da região austral de África.
- Papá Costa, azali bien? - Questionam os franco-lingaleses procurando por conversa.
- How are you, mister Costa? -  Saúdam outros, os vizinhos do leste, sudeste e sul que herdaram a língua de Shakespear.
Depois de anos árduos de trabalhos e negócios, Costa já a caminho da aposentação, tornou-se mascote familiar. Os primos, sobrinhos e até netos querem ficar ao pé dele e aprender um pouco de suas brincadeiras, sempre bafejadas de humor, quando não são verdadeiras lições sobre etiqueta e comportamento familiar ou empresarial.
Sempre que questionado por que entende ele de quase tudo, a resposta sai-lhe curta e peremptória:  estou no meu décimo mestrado.
Em tempos, surgiu alegre como sempre, a informar aos irmãos e cunhadas com quem convivia que durante uma viagem de 24 horas a uma província do litoral angolano aproveitara fazer um mestrado de três horas.
- Três horas? Qual mestrado, mano Costa?! - Questionou a assistência expectante.
Costa era daquelas pessoas que quando começasse a falar a plateia abria-lhe as alas. Era o mais velho da família e a reserva moral a quem todos deviam respeito e obediência.
- Sim, começou ele a explanação a que o mais atrevido da audiência apelidou de “aula magna”, fiz um rápido Mestrado em abertura de festas de salão. - Explicou recebendo uma forte gargalhada, seguida de assobios festivos.
- Abertura de festas de salão? Kota Costa é bué, yá?! - Enfeitou um dos assistentes e admiradores.
- Sim. Até avanço já o preço. Cobro apenas uma ngala de pomada. E, se for pessoa de casa, pode até ser por crédito mas acreditem. Danço muito que até nem me estou a acreditar. Foi um curso muito bom e quero já anunciar que estão abertas as inscrições para interessados nos meus préstimos. Todos que me viram na exibição prática do Mestrado só diziam: esse é o mestre que a cidade esperava há milénios. - Explicou entre sorrisos.
- Mas o kota estava a ser aguardado há milénios ou no Millennium? - Voltou a provocar um dos sobrinhos. Entre os bakongu, sobrinho e tio têm conversa ilimitada. Apesar da diferença de idade podem tratar-se como se fossem contemporâneos, sem tabus nos temas em abordagem.
- Xê, seu sakana de mercadoria. Organiza uma festa e convida o tio para ver se as moscas não se vão alojar na tua boca de tanto a manter aberta e bater palmas. Até as mãos te vão ficar rachadas. - Rechaçou Costa, inclinando as últimas gotas de uma reserva alentejana de 14 graus.
- E então jovens, estão ou não dispostos a contratar? Já conto com vinte inscrições para 2015 - Apelou o mestre Costa.
A plateia fez sinal de aprovação e o debate prosseguiu. Zé da Costa pegou a sua taça de pomada, sorveu dois goles, sentiu a massudez da velhice daquele tinto e o sabor a reserva. Marcou uma dúzia de passos pelo quintal, ensaiou um assobio e retomou a sua publicitação:
- As inscrições estão a decorrer. Faço abertura de festas de aniversário, de casamento, de baptizado e até de amistosos. Não tardem em fazer as vossas reservas nem se esqueçam do pagamento. Uma garrafa de boa pomada é o valor mínimo para familiares e amigos chegados da família!

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

DIALOGAR MAIS E DE FORMA DIRECTA!

 
Quem leu ou ouviu o último discurso do Presidente Eduardo dos Santos, em sede do Partido que suporta o Governo, o MPLA, reteve, entre outras passagens, a orientação estratégica para que as partes, dirigentes e dirigidos falem mais e de forma aberta e inclusiva. Aliás, essa tem sido a postura do Chefe de Estado Angolano desde o início da sua Magistratura. 
 “É necessário mais diálogo, falar com os cidadãos num discurso directo e com palavras simples para os esclarecer sobre as causas das dificuldades que estamos a atravessar e sobre o que devemos fazer para resolver os problemas”, verbalizou o Presidente.
A meu ver, sendo que a informação é para as organizações uma vantagem competitiva, uma vez que um funcionário convenientemente informado reage favoravelmente aos estímulos que recebe, a comunicação sobre as boas práticas a observar nas Instituições e a correcção de atitudes perniciosas que se vão instalando como o absentismo (falta de assiduidade, pontualidade e de comprometimento com o serviço público),devem ser tarefas diárias de todos os Líderes (formais e informais) para que a “Nossa Dama” esteja sempre na fila de frente quando se fale sobre o desempenho dos Departamentos Ministeriais e demais órgãos vinculados à Função Pública.
 
Cada Líder, independentemente das suas atribuições, deve considerar-se um comunicador e um influenciador de seus liderados.
Cada liderado deve conhecer e entender as dificuldades por que passa a nossa economia e cooperar, com a sua entrega e esforço laboral, na busca de soluções. Não reclamar daquilo em que não se coopera é o que nos dita o princípio do bom senso. Só aqueles que ainda se mantêm distraídos não se deram conta das transformações que se estão a operar na nossa Função Pública. Esses colegas devem ser despertados pelos outros que estejam atentos às mudanças e, sobretudo, pelas Lideranças. Um dia, não tarda, deixaremos de ter os livros de ponto descentralizados como acontece até agora. Já falta pouco para que a duplicidade indevida de remunerações deixe de acontecer. Um levantamento e conformação de dados entre os constantes no Bilhete de Identidade e na Folha Salarial está em curso e deve abranger todos os organismos Públicos. Um dia, também não tarda, só aqueles que realmente trabalham com zelo e dedicação terão a correspondente remuneração.
 
É TEMPO PARA DESPERTAR. É TEMPO DE DIALOGAR MAIS, DE FORMA ABERTA, E COOPERAR!