Pouca Sorte tinha preocupação em visitar alguém cujo ponto de encontro seria o local de culto. Ao meter o nariz no beco, a fumaça recordou-lhe tempos do Poeira, quando a camioneta da administração passava, tarde sim, tarde não, a distribuir o fumo mata mosquitos pelo museke.
- Xê, kandenges, quê isso, a esta hora? - procurou dissuadi-los daquilo que todos os papás repudiavam aos makwenze de então.
- Xê, wi! Cuidado com a boca. Tu não sabes quem sou eu. Se abrires mais essa mandíbula, vô te bondar e vô te cumprir.
- Xê?! O quê? Te duvido. Achas que sou civil ou quê. Vamos se cumprir. Ou melhor, eu te bondo primeiro e te cumpro, sô meu cão de merda.
Já não era o início da briga. Era mesmo o meio da confrontação verbal, da troca de argumentos e, sobretudo, de músculos e adereços que se achavam à cintura...
Pouca Sorte estava ali ocasionalmente. De passagem para o culto nocturno em sua comunidade religiosa de proximidade que os metodistas designam Classe. Ao passar pelo beco, dois kangonyeros aqueciam os motores com fogo de artifício.
- Pá, pá, pá, pá. - Estoiravam as sementes submetidas a fogo, seguidas de um "passa o mambo” que Matengó, outro transeunte, entendeu ser ordem para desmonta.
- Porra! - Gritou Matengó. - Sou kwemba e já vi muito sangue, mô ndenge. Noutras bandas já fatiguei muitos putos. Mas aqui, sei que são kandenges da banda.
- O quê, kota? Cuidado, vou te fatigá! - Atirou um dos mizangala, empunhando uma baioneta.
Matengó, mexicano puro, antigo craque no desmonta tia zaikô que se tornou pistoleiro na tropa, em Kahama, Kwamato e Xangongo. Só faltou-lhe entrar em Môngwa e Ndjiva. Matengó, mesmo desmobilizado, da greguice e da tropa, não deixava créditos em mãos de estagiários.
- Porra, pá. Filho de rameira! Vais me quê? Eu Matengó?!
Sacou da sua "esposa”, a "Tt” que se achava já com a patilha desguarnecida e fez dois balázios a queima roupa.
- Pum-pum (disparos). Mãos no ar, filho de meretriz! - Ordenou.
Um dos bandidos, que lyambavam no beco, pôs-se ao fresco. Teve tempo de pular umas aduelas e correr sem norte. Parecia ter sido atingido, mas o disparo de Matengó foi só de controlo. O outro que tentou torrar farinha com o kota estava banhado de mijo.
- Me balaziaste, kota. Só brinquei contigo e me fatigaste já? Assim mesmo está bom, mô kota da banda?! - Implorou.
Sem a argúcia que a lyamba e a baioneta lhe conferiam inicialmente, Nguma teve de entregar o corpo ao deleite de Matengó que era considerado em todo o bairro do México como "bom em porradar”.
Pouca Sorte viu tudo aquilo. Parecia um filme. Desistiu do culto e foi a correr à casa. Felizmente, aquela bala disparada por Matengó se escondeu na terra húmida do Beco 3 do Kaputu. Não estava perdida e não daria a reclamação futura de um ser vivente, senão da conduta de água ausente em que ela se alojou.
Veremos no que dará quando o SMAE, empresa que cuida do abeberamento, reabrir as torneiras!