quarta-feira, 6 de junho de 2012

A vez e a hora do "Manongo-Nongo, A Festa dos Recém-nascido"

Por: Tazuary Nkeita (*)
Começo por desejar as boas vindas a todos os presentes, agradecendo o vosso gesto, tão estimulante, de acompanhar o autor, Luciano Canhanga, no lançamento e na repercussão da sua segunda obra literária que tem um  título que se aplica a ele próprio.
Digo isso porque Manongo-Nongo não é apenas a festa dos recém-nascidos é também a festa de um recém-admitido no mundo da literatura e de todos aqueles que hoje, aqui, o acompanham. (em vosso nome, peço uma salva de palmas para o nosso Soberano Canhanga)
Apesar do Luciano ser um jovem jornalista com uma experiência profissional de vinte anos, conheci-o há apenas quatro anos por intermédio de amigos comuns, também ligados ao jornalismo e à literatura. Facto curioso, entre ele e eu, é que ambos iniciamos o jornalismo com a mesma idade: 19 anos!; eu em 1975 quando Angola estava a nascer e ele em 1996 quando a independência já era adulta. O mais curioso ainda é que desde que o conheci, ele não deixa  de me surpreender.
Surpreendeu-me a primeira vez quando me pediu para fazer a revisão e escrever o prefácio do seu primeiro livro, «O Sonho de Kauia», em 2010;
Surpreendeu-me novamente quando tomei conhecimento da publicação deste «Manongo-Nongo» -  a Festa dos Recém-nascido -  meses depois de ele ter pedido a minha opinião sobre um outro livro, «O Relógio do Velho Trinta», a obra que já anunciou antes deste lançamento.
E, como se não bastasse, voltou a surpreender-me pela última vez há menos de três dias, quando me convidou para fazer esta apresentação, em cima do joelho e quase na «Vigésima Quinta Hora».
Aceitei este desafio única e simplesmente por causa do espírito de combatividade que lhe é característico, que nos contagia, a todos, e que tenho elogiado desde que o conheci. E sinto um imenso orgulho por ser chamado de «padrinho» de um jovem assim, quando eu próprio, também, me sinto à deriva, procurando padrinhos,  como se fosse um recém-nascido mergulhado neste complexo universo que caracteriza a literatura angolana.
Talvez não seja o melhor dos exemplos, entre os possíveis, mas o sentimento que me anima,  estando ao lado do Luciano Canhanga, neste momento, é precisamente o da obrigação de um profissional, da saúde, chamado a socorrer com urgência o nascimento de uma criança; a sensação de alguém que vai sentir nos braços a respiração de um novo ser; o bater súbito de um coração na ponta dos dedos, mas, descobre, diante dos olhos, uma nova espécie de criação humana – quero dizer, o nascimento de uma obra literária com uma riqueza, um conteúdo e uma vitalidade impressionantes!
Manongo-Nongo merece, por mérito próprio, ser também, por isso mesmo, a  cerimónia festiva da consagração do autor no universo da literatura angolana.
É o mínimo que  posso dizer sobre o efeito que a leitura de  «Manongo-Nongo – a Festa dos recém-nascidos» causou em mim, nas últimas 72 horas que antecederam a esta cerimónia.
O Luciano Canhanga tem agora a oportunidade de alimentar o seu recém-nascido, espalhando repetidamente os ecos e a boa nova desta cerimónia, com a mesma combatividade com que tem enfrentado os obstáculos do seu dia a dia.
O livro que nos chega, hoje, às mãos merece uma repercussão nacional. Seria uma Cegueira imperdoável pensar que o principal  interesse por Angola hão-de ser eternamente as minas de diamantes, os poços de petróleo ou o jogo político. A prova está, aqui, na apresentação destas histórias fantásticas com um retrato magnífico da vida, da cultura e do património de povos de Angola e na mensagem que o autor nos transmite: - A nossa cultura é vasta e o trabalho que nos espera é maior ainda!
É um livro que se aconselha a todos os estudantes e amantes da literatura angolana; um livro que nos oferece histórias, de mais velhos que moldam o carácter dos mais novos, transmitindo conhecimentos e uma hierarquia de valores morais e sociais cujo resgate há muito se anda à procura.
É um livro onde os animais irracionais dão lições de civismo aos seres humanos e cuja repercussão nos faz exclamar «Esta é Angola, esta é a nossa terra; esta é a nossa gente!».
Outra característica é a recolha de mitos populares sobre a vida, a doença, a morte e o feitiço.  O autor reproduz histórias do dia a dia das aldeias que percorreu e termina com a lição moral que elas encerram, transmitindo valores fundamentais e fraquezas do génio humano, tais como a solidariedade, a ingenuidade, a inveja, a ignorância, a ingratidão, o ciúme,  a confiança mútua e triunfo da verdade e da justiça!
Se quisermos ser rigorosos na análise, Manongo-Nongo não é propriamente uma obra infanto-juvenil, mas um livro que os adultos devem ler e interpretar para as crianças.
É, finalmente, um livro que chega na hora certa e no contexto mais certo. Espero por conseguinte  que ajude a aumentar os níveis de confiança de todos aqueles que ainda estão indecisos quanto a qualidade e ao futuro da literatura angolana.
Muito obrigado
Tazuary Nkeita 
(*)Texto da apresentação da obra  «Manongo-Nongo» de Soberano Canhanga
Sede da União dos Escritores Angolanos em Luanda aos 5 de Junho de 2012