domingo, 1 de janeiro de 2017

A CORVINA E O PUNGO

Era manhã quando se conheceram. Jacinto na fase área da masculinidade e Cármen no auge da beleza e da cobiça masculina

Jack era extrovertido e não se continha aos encantos que ela exalava. Estava ricamente prendada de atributos que punham meio mundo amedrontado, incluindo os garanhões dos bairros mais chique da urbe. Apesar dos seus milhentos atributos, Cármen era do estilo tímido. Aparentava isso nos seus poucos convívios e brincadeiras no recreio da escola. Se calhar os elogios e galanteios a coibiam de se expor. Mas era o que se via e ouvia. Tímida e abundantemente prendada, desde a rectaguarda que nunca acompanhava a cabine na mudança de direcção, aos cabelos negros e longos e uma cor entre o branco e o chocolate.

Para Jack, sempre sem papas na língua, Cármen era uma cobra. Aparente mente resguardada mas perigosa no seu dia-a-dia privativo. A história bíblica do Éden entre Eva, a  serpente e o diabo era o argumento de Jack para descrever a musa dos seus sonhos.

Benguela era a cidade dos sonhos. Conheceram-se numa formação para hospedeiros que Jacinto não terminou por gostar mais de aviação militar do que a civil.

- Jack, gostaria que me ajudasses. Posso contar contigo ou te vais comportar como os outros que não passam da lata? - Advertiu a jovem de forma insinuadora, esperando que Jack engolisse a gajaja.
- Que queres de mim gata?
- Quero quinhentos dólares emprestados. Quando receber o meu ordenado tos devolvo. – Justificou Cármen, exibindo todo o charme atrelado à voz.
- Sabes Carmen, não tenho esse valor de momento mas, se procurares por mim, sábado em casa, sou capaz de te arranjar algum.

Passaram-se dois dias. Jack na defensiva quando o assunto fossem dólares e ela no ataque até que o rapaz cedeu. Puxou tês notas americanas de maior valor facial e as entregou na curva dum corredor, esperando por um beijo em sinal de gratidão.
- Não nos podemos beijar na rua, Jack. Sabes que isso é perigoso, numa instituição. - Atirou , com um dos pés fora do edifício.
O cheiro à maresia daquele parque encaixou-se na mente de Jack.
- Não vou engolir isso em seco. Não sou homem de perder guerras. Vou até ao fim. Tenho de recuperar o meu anzol, com uma grande corvina. Pungo é que não!- falou alto para si mesmo, como quem prepara a apresentação de uma dissertação.

Chegou a noite e dormiu leve. Sonhou com a cama quente, os dólares, os beijos e todos complementos…

Publicado pelo Jornal Nova Gazeta de 26/04/18. In: As travessuras do Jack (no prelo).

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