sábado, 11 de novembro de 2023

NOTAS A: “COMPETÊNCIAS NA FORMAÇÃO DOS TEMPOS COMPOSTOS E VOZ ACTIVA E PASSIVA" DE JOSÉ KAXIKOTE

Breves notas a:

“Competências na Formação dos tempos compostos na voz activa e passiva”, de José Kaxikote.

Espreitando o censo de 2014, verificámos que a língua portuguesa é falada por mais de 71% dos angolanos, sendo que nas áreas rurais a percentagem média de falantes baixa para 49% (censo 2014). Mesmo assim, também no interior, incluindo o Lubolu, a língua portuguesa é o idioma predominante na comunicação e interacção entre os diversos povos que habitam o nosso país, reforçando a ideia do domínio das suas regras, sobretudo para aqueles que a têm como instrumento de trabalho.

Para aferir o quanto precisamos de nos ajustar à norma, basta andar pela rua e ouvir expressões como “lhe bate” ou “estou a ir na escola”, para citar apenas estas pérolas de um imenso mar de desconhecimentos e atropelos.

Aqui chegados:

1. Quando é que eu, sujeito falante, sou o autor do discurso e quando é que apresento um discurso alheio?

2. Como proceder para transmitir (de forma escrita ou oral) uma ideia que seja de outrem?

Apesar do aparente crescimento, em Angola, dos níveis de escolarização, nota-se, quando comparadas as competências linguísticas, uma tendência decrescente e, diga-se mesmo, assustadora, pois vão surgindo gerações que, apesar de possuírem mais informação (formal e informal), denotam cada vez menos conhecimentos e competências no emprego de normas linguísticas.

Grande parte dos integrantes dessas gerações pós-independência não domina língua nenhuma. Alguns tiveram ou têm como língua primeira (materna) uma africana (bantu ou pre-bantu), cujas regras gramaticais desconhecem e, por isso, não a dominam. Outros, sobretudo os nascidos nas cidades e vilas, iniciaram o processo de comunicação servindo-se da língua portuguesa aprendida no convívio familiar e social, sem que lhes fossem transmitidas as normas gramaticais que regem o idioma. E vamos construindo um país cujos cidadãos (grande parte e não todos) não dominam plenamente nenhuma língua, quer as ditas “nacionais” quer o veículo de comunicação para a consolidação do nosso projeco de Nação.

Com o exercício debitado no livro que tem à mão, José Kaxikote vem despertar-nos sobre a necessidade de reforçarmos as nossas competências em temas críticos, do ponto de vista da escrita e da fala, como a formação de tempos compostos, a voz activa e (sua transcrição para) a voz passiva.

Como acima aflorado, o tema “competências linguísticas” estende-se também a algumas ou senão mesmo todas as nossas línguas africanas faladas no nosso país, com realce ao Kimbudu do Lubolu de que Kaxikote, o autor deste livro, é falante.

A título de remate, dirigindo-me aos professores de Língua Portuguesa e outras, é mister assinalar que um docente que não reúna competências linguísticas mínimas é um mutilador replicador, na medida em que os seus discípulos, que o tenham como “mestre”, continuarão a replicar e disseminar no convívio social e ou acadêmico as suas limitações.

Leiamos e exercitemos para cunhar e robustecer as nossas competências linguísticas, pois, como diz o autor (p.20), “uma pessoa que não exercite a sua competência fatalmente a verá diminuída com o tempo”.

Luciano Canhanga

Lisboa, Maio de 2023.

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