sábado, 5 de março de 2022

MEU 1° DISCURSO NA UEA

Ilustres Confrades,

Todo o protocolo observado.

Quis o destino que recebesse o meu cartão de membro da União dos Escritores Angolanos das mãos do confrade F. Tchikondo que, na qualidade de Ministro Francisco Queiroz, me "retirou" da Lunda Sul onde trabalhava, havia dez anos.
Obrigado, Dr. Queiroz!

Feito este à parte, permitam-me agora considerar que não é fácil discursar num evento colectivo, quando se é dos últimos a tomar a palavra.
Subscrevo os confrades que me antecederam, quanto ao cumprimento dos deveres de membro desta casa.

Há muito ando ligado à União dos Escritores Angolanos, sem a ela me ter associado. O primeiro livro que li na minha vida, tirando o Manual de Leituras, foi "Mestre Tamoda e Outros Contos", de Uanhenga Xito. Tinha na capa a inscrição 2K, que me lembram ter sido uma edição da ou para a UEA. Foi em 1981. Aí começou a minha aventura pela leitura, além dos livros escolares.
A estudar em Kalulo, comprava e lia Spunik, Jeune Afrique, JDM (mesmo com meses ou anos de atraso) e outros jornais distribuídos pela EDIL.
Depois, já em Luanda, nos anos da frequência do Curso Médio de Jornalismo, passei a ir (vir) à União. No princípio, vinha trazido pela professora Gaby que fazia, na aula seguinte, perguntas sobre as makas da Maka da semana.
Quando aquilo me entrou no sangue, passei a vir sozinho, sem pressão e nem coação, mas vinha só para ouvir os mais velhos falarem sem tabus e trocarem ideias. Algumas destas ideias eu partilhava/discutia também no bairro com os amigos. Outras ficavam guardadas para a peleja de argumentos com os colegas no instituto e, mais tarde, no trabalho.

Não era para ser escritor, muito menos ser membro da UEA. Portanto, vim trazido pela curiosidade de ver, ouvir e escrevinhar sobre o ontem, o hoje e o que pode ser o amanhã parido pela imaginação.
Se me recebeis, como digno de estar no vosso seio, agradeço a honra. Não pretendo ser o mesmo. No âmbito daquilo que é a vocação da União, "independência do pensamento, investigação permanente, reflexão e apologia do debate", procurarei aprender com os mais velhos e ser melhor.
Muito obrigado!

Soberano Kanyanga, UEA, 5.3.2022

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