quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O RECADO DO COELHO


Mensagem enviada por e-mail ao meu "grande kota" José Soares Caetano (Tazuari Nkeita) e que m'a fez chegar.

...  Ontem à noite, fazia eu um "zapping" pelos canais da televisão, quando deparei com um programa que não conhecia, Arco-Íris que, pelo que vi, presumo ser um magazine cultural.

E lá estava ele, o nosso jovem amigo Soberano (Luciano?) Kanhanga, feliz e emocionado apresentando o seu "filho", "O Sonho de Kaúia".

Tal como ele também eu fiquei feliz e emocionado, porque sei exactamente o que se sente quando se "dá à luz" uma primeira obra.

E também te vislumbrei, de relance, depois do Kanhanga ter agradecido publicamente o teu decisivo incentivo.

Mas, já no fim, senti alguma amargura: alguns dos convidados a falar sobre o livro eram escritores, que não conhecia, jovens na maior parte, de quem, possivelmente, não terei a possibilidade de ler as suas obras, porque não chegam a Portugal, tal como o meu livro talvez nunca chegue a Angola...

E aqui faço a mesma pergunta/desafio que um dia fizeste: para quando a criação de uma Casa da Cultura Luso-Angolana, ou vice-versa, que possibilite um canal aberto à divulgação do que se vai fazendo no campo das artes, nomeadamente na Literatura?

Um forte abraço para ti e, por favor, estende-o ao jovem Kanhanga, cronista de mérito que aprendi a gostar através do sítio do nosso amigo Manecas Ruivo!


Tomás Lima Coelho

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O COMÍCIO DO MBUKAYO

Mwata Cikambi sacudiu o único casaco que tinha e sem aviso prévio decidiu rumar à sede administrativa da circunscrição que tinha recebido um novo chefe. Com jeito vestiu a camisa branca, quase a perder a cor de tantas lavagens e nódoas involuntárias de sumo de caju. A parte traseira estava mesmo rota. O velho, um antigo guerrilheiro da luta de libertação, meteu-se a caminho para uma conversa aberta com o novel dimixi .

- Menina boa tarde. O camarada administrador está?
-Sim paizinho. Mas … o senhor veio da parte de quem?
- Da minha parte mesmo. Vim sozinho. Sou o Mwata Cikambi. Menina num me conhece?

A jovem, esbelta de se pôr inveja, dezanove anos mais ou menos, cintura fina e ombros de cabide, levou tempo a responder e logo o velho notou que ou não o conhecia ou a secretária estava a fingir.

- Essas meninas de agora são sempre assim. O chefe pode estar lá dentro, mas dizem sempre que não está ou está reunido. Mas hoje não sairei daqui sem que ele me receba. - Falou para si mesmo.

A secretária, sabendo que o chefe demoraria a atender o soba, optou por levá-lo à sala de espera.

- Mwata, espera só um bocado que vou já avisar o chefe que está reunido com umas pessoas que também vieram de longe e chegaram primeiro.
- Está bem filha, - respondeu, embora recticente.

Na sala, Satula recebia um a um outros senhores, os notáveis de Mbukayo. O administrador tinha apenas dias, mas a lista de pedidos de audiências já era enorme. Eram fazendeiros que pediam alfaias e acesso ao crédito agropecuário, sobas que exigiam regalias, antigos guerrilheiros que pediam pensões, viúvas que procuravam por maridos desaparecidos na guerra, enfim… um mar de preocupações com que Satula nunca contaria logo na primeira semana. Mas o destino estava traçado. “Não adianta fugir dos problemas porque eles antecipam-se à nossa marcha”. - Desabafava com os poucos amigos que tinha na vila.

- Pai, toma um café? - Questionou Lawa, a secretária.
- Sim menina.

O tempo passava, a vez de entrar na sala do administrador tardava em chegar e o café esfriava. Nem sequer o tinha adocicado com o mel delicadamente servido numa tigelinha. Duas horas depois, com o administrador já pronto para o cara-a-cara, Lawa voltou à sala de espera e reparou que o café, já sem calor, mantinha-se intocado. 

...

- Oh Citonji, essa tua mania do está ultrapassado eu não gosto. Como é que você vê as pessoas a sofrerem e na hora já de falar te ultrapassei. Por acaso você viu alguém na estrada a andar de vagar?
- Cala a boca seu terrorista. A tua sorte e que a guerra já acabou se não eu mesmo é que ia te apagar desta vez. – Rechaçou Citonji, Manuel Nyanga de seu nome, mas assim apelidado devido a contracção de uma deficiência física na guerra da independência.

A rivalidade entre Mwata Citonji e Kajivunda era de há muito tempo e escapava ao conhecimento do administrador que os recebeu em simultâneo para exporem em conjunto as dificuldades por que passam os antigos guerrilheiros da pátria em Mbukayo.

Residiam, enquanto crianças, em paredes-meias e foi o único tempo de amizade e cumplicidades. Um no primeiro andar do pequeno edifício da vila que chamavam kaprédio e outro no rés-do-chão. A rivalidade começou na juventude quando tiveram de aderir aos movimentos. Citonji era e é um fervoroso apoiante dos Vermelhinhos e como eles alinhou para as matas do Leste onde viria a ser lesionado no ombro esquerdo. Kajivunda sempre se reviu nos Verdinhos do Jacinto e cedo se tornou no encarregado da logística do mais novo movimento que depois passou à oposição armado ao regime dos vermelhinos. Separados no ano de setenta e um, voltaram a reencontrar-se já nos anos noventa e sem a pujança doutrora.

- Vocês do Vermelho são sempre assim. Lambem a bota até furar o cabedal… O administrador é novo e precisa de saber as coisas, pá!
- E vocês que partiram o Mbukayo pelo meio são quê. É? Me fala seu reaça.
- Reaça é você, seu cobarde. Onde te está a dar a comichão é onde você se coça. Porquê que andas roto se o vosso Vermelhinho te dá tudo e tu não precisas de nada mais?
- Cala a boca, pá! Olha que se não fosse o meu ombro punha-te agora mesmo a apanhar castanhas, seu inergúmeno duma figa…
- Inergúmeno, eu? Inergúmeno é a tua senhora que não te dá bons conselhos está bem? E olha que hoje andaste com sorte porque se fosse nos tempos do meu marechal isso ia ficar feio… e ia ficar mesmo…

A subida de tom das vozes dos dois idosos puxava para o quintal da administração muitos dos transeuntes que sem saberem as causas e os fundamentos daquela briga ora procuravam apaziguar evocando a paz do Jacinto ora colocando mais lenha na fogueira. Foi naquele instante que Lawa foi alertada pelo guarda que assistia à discussão entre os dois veteranos de guerra saídos da sala do administrador e foi ver o que se passava para informar ao chefe se fosse caso para tal.

- Mas paizinhos o quê então que se passa convosco, pai? – Perguntou no meio de tantos disse-que-disse da assistência.
- Filha, já viu esse Kajivunda a me ameaçar eu, um antigo combatente da pátria?
- Citonji explica só o que se passa. Talvez é o administrador que mandou a menina.
- Não, pá, seu filho da pu... você hoje vai me ouvir.

- Mas assim não vos oiço. - Interrompeu a moça no meio do disse que disse. - E se a discussão é de algo que saiu de lá dentro com o chefe é que vou informar?
- Pois bem. O Citonji explicou os problemas dele. Falou que lhe falta comida, casa e adubos. O chefe lhe escutou e eu não lhe cortei. Mas o gajo na minha vez de explicar veio com a mania dele de dizer que este assunto está ultrapassado, mas ele pensa já que também é chefe? Eu me coço ali onde está a me dar comichão…
….

- Então o paizinho não tomou o café?
- Não filha estava à espera do pão!
Sem se poder controlar, a secretária pôs-se a rir em bandeja larga o que deixou enfurecido o velho regedor que entrou de rompante na sala do administrador a quem expôs a falta de respeito por parte da secretária e os problemas que o afligiam. Satula só teve um caminho para apaziguar os ânimos exaltados do soba mais importante da região.

- Mwata, os jovens de hoje não sabem como estar perante um mais velho. Peço já as minhas desculpas e vamos tomar medida para que isso não volte a acontecer.

Satula largou um berro enraivecido ao gosto do velho que pretendia a tomada de medidas repreensivas contra a menina “mal-educada”.

- Lawa! arruma já as tuas coisas e estás suspensa!
- Não chefe, me desculpa só… - A jovem entrou humilde, ajoelhou-se aos prantos ao pé do velho que olhando para o administrador ordenou:
- Pronto já filha. Mostraste que apesar do erro conheces os costumes. Chefe, pode lhe perdoar. Emprego está difícil e escola para educar os filhos num há aqui desde que o colono foi embora.

Para contentar o velho, Satula propôs-lhe a realização do primeiro comício público na sua redoria, ao que de imediato concordou. Para mwa-Cikambi acolher o primeiro acto público do administrador era sinal de grande reconhecimento e de vantagem sobre os outros regedores e sobas da região. Rápido afogou a dor causada pela rizada da menina-moça e retirou-se satisfeito, mesmo sem ter levado nada de material. O dia para Mwa-Cikambi estava ganho. “O resto virá com o tempo” - disse ele ao chegar à sua aldeia que distava dez quilómetros da sede municipal.

Pim, pim, pimmmm…. Uion uion uion… Polícias e ambulância médica abriam o caminho entre a multidão revoltada para facilitar a retirada forçada do administrador. O comício tinha ficado pelo meio e o povo furioso, mais uma vez, conseguiu correr com um administrador.

Terminada a guerra, Satula abandonou o Maquis com a patente de Major e graças a argúcia que possuía e alguns compadrios na superestrutura partidária foi nomeado administrador do Mbukayo.

- Cipalavela!
- Chefe.
- Sabes falar Umbundu?
- Sim chefe. Nasci mesmo aqui- respondeu o guarda-costas.
- Amanhã vamos fazer o primeiro comício no Mwa Cikambi e como aquele povo é mafioso vais fazer a tradução.
- Está bem, chefe. Pode confiar.

Satula, um mukwakuyza, levava como recomendação dos seus superiores: pôr ordem naquele município que durante muito tempo foi administrado pela guerrilha. Já dois seus antecessores civis tinham fracassado e a ele, um militar, a missão seria a de impor a ordem administrativa, custasse o que custasse.

- Viva o povo!
- Viva!
- Viva a paz!
- Viva!

A multidão, embora rotulada de resistente, começava a flexibilizar-se e a cantar a “música” do administrador, tirando uma bolsa que se mantinha sentada debaixo da mulemba.

- A luta?
- Acabou! – Responderam.
- A vitória?
- Foi à lavra!
- Isto já me cheira à provocação, pá! - Recamou em voz baixa, mas se conteve.

O sol tornava-se cada vez mais intenso e a chuva anunciava presença. O povo cada vez mais incómodo de sentia, pior ainda com as palavras caducas do administrador. Este por sua vez, vacinado contra a resistência do povo, de imediato franziu o rosto e ordenou ao intérprete.

- Para ouvirem bem traduz tudo para a língua daqui. Não esquece nem uma vírgula está bem? E diz-lhes que vou falar em português.
- Sim chefe.

E o intérprete começou:
- A Wiñi wo Mbukayo kalungi!
- Kuku! - Respondeu a multidão que aguardava pelas novidades do novo administrador.
- Omo akuti Soma kapopi elimi lietu, otuvanguila mwenle voputu, noke ame ndipitilisa ondaka vumbundu. – Preveniu Cipalavela, o guarda-costas promovido a tradutor.

(Como a administrador não fala a nossa língua, vai falar a língua dos portugueses e eu vou traduzi-lo para Umbundu).

E começou:
- Camaradas do Mbukayo, já sei que vocês correram com dois comissários porque negaram cumprir as ordens que trouxeram da província. Eu vim com muito respeito do povo e quero também muito respeito para comigo. Se não, vamos ver quem é que manda, se é o administrador enviado para governar ou se é o povo que não quer obedecer as leis do Estado...

A população se conteve às palavras ameaçadoras do administrador e até mesmo os conhecidos sabotadores dos comícios se mantiveram silenciosos.

- Os camaradas que por cá passaram já me disseram que vocês gostam de foder os outros, só porque andaram nas matas, numa vida errante de cada um por si. Mas comigo a coisa vai ser diferente. Trago orientações superiores que são muito precisas. Quem tentar me foder engana-se. Eu é que o fodo primeiro, ouviram?

O administrador fez uma pausa para limpar o suor que lhe inundava o rosto enquanto o tradutor convertia o discurso letra a letra para a língua do dia-a-dia.

De imediato o povo reagiu com gritos de reprovação e alguns tomates que tinham sido recolhidos para servirem de oferta ao administrador foram lançados ao alpendre que produzia a sombra. Uns retiravam-se aos muxoxos e outros ensaiavam posições ameaçadoras à integridade física do dirigente. O clima estava empolvorado.

Satula olhou para o também aflito Cipalavela e questionou:

- Que se passa, pá?
- Parece que não gostaram do que o chefe disse que lhes vai foder primeiro.
- Mas tu falaste mesmo assim do que os adultos fazem à noite?
- Sim chefe. O chefe mandou falar tudo. Palavra com virgula…
- Porra, pá! Agora tu é que me fodeste, pá!

No local, terreiro da casa do soba Mwa Cikambi, o povo largou uns “kwende, katuyongola usonguwi wu ndeti ”, mas apenas uma mancha de poeira se via no trilho. O céu continuou ameaçador de chuva, mas nada os demovia. Nem mesmo o sol que se revezava com a sombra das nuvens viajantes.

Livre da rebelião, mas nunca da punição, Satula esperaria pela sua sorte, talvez a cadeia, tão logo a notícia chegasse à província. E não tardou. Dois dias depois foi chamado à sede da província pelo Comissário-Chefe. Seguiu no sei NIVA amarelo acompanhado de dois emissários armados que não o deixaram sequer despedir-se da mulher. Até o volante foi-lhe retirado e entregue a um dos emissários do Comissário-Chefe.

Pelo caminho, tentou saber a razão da chamada e daquele canino acompanhamento.

- O Maior disse-nos apenas para não o deixar respirar, Sr. major Satula. - A voz firme era dum jovem de uns vinte e tal anos. Pedro Gama, cabeça rapada, barba aparada nem parecia um bófia. Ao volante seguia um senhor de idade, quarenta e tal cacimbo vividos ao volante ora de IFA ora de DAIMER, ora de ZIL e outras tantas marcas que só ele sabia. O homem de pouca palavra, respondia apenas pelo cognome de Dono da Estrada.

- Estamos apenas para cumprir ordens, nós também não sabemos o motivo que nos trouxe. -Respondeu ele à pergunta de Satula que a todo o custo pretendia saber para onde iam e com quem falaria uma vez chegados à cidade.

Satula foi conduzido à penitenciária provincial e despachado semana depois para Luanda onde cumpriu seis meses de sem julgamento.

Na cadeia, o homem sôfrego sente ainda as cordas a lhe morderem a carne. Havia já dois dias que fora ali depositado como cão sem dono. Aquela dor, como dentes que se encravam horas sem fim na carne moída, era uma enorme tortura. Satula não se conteve de tanta raiva - raiva mesmo era o que sentia – e largou as últimas lágrimas que guardara para a mãe já cansada de velhice. A solidão e o sofrimento apossaram-se dele e viria a largar um pequeno sorriso apenas, diga-se involuntário, à resposta de um dos companheiros de cárcere à música tocada no rádio a pilhas pendurado na parede alta do recinto.

Francisco Cikolasonyi, natural do Mwa Cimbundu, estava ali detido por ter aderido a um movimento secessionista e posto na Kinyonga às ordens de quem desconhecia. Fora agarrado numa noite de festa. Propositadamente embriagado por um indivíduo que conheceu no mesmo dia, foi levado já sem sentido e acordou na cela. A mínima noção de culpa que tem foi-lhe transmitida por um outro desconhecido que passou pela cela no último domingo.

- Você é o Cikolasonyi?
- Sim chefe.
- Sabes o que significa?
- Sim chefe. É provoca vergonha, chefe!
- E te sentes bem aqui numa cadeia, um pai de filhos com mulher e família?
- Não chefe.
- Então, se um dia saíres daqui, pensa bem antes de te juntares àqueles divisionistas sem cérebro, está bem?
- Sim chefe! - Respondeu sem saber de onde vinha e que missão tinha aquele homem de baixa estatura, mas cheio de ares de grandeza.

Cikolasonyi ignorava o poder das ondas hertezianas e a telegrafia sem fios era, para ele, um conto de fadas. O homem acreditava piamente no feitiço e noutras forças ocultas que podiam colocar homens de grande estatura dentro de um garrafão de vinho ou numa caixa de fósforos, mantendo a sua vida e executando as acções dos humanos no seu ambiente natural: falar, por exemplo, ou mesmo cantar como se canta nos coros juvenis da igreja protestante.

Era a primeira vez que ligava um rádio a mando do chefe da cela, o famigerado Tira Sangue. Tão logo girou para a direita o botão power, saíram da pequena caixa preta, com barra de vidro na parte superior, vozes que ele entendeu como se uma pessoa cativa dentro do aparelho o tivesse perguntado: “Cika, Cika nunca mais te vi” …, ao que ele de imediato respondeu na mesma bitola cantada:

- “Num estovo aqui, andovo no Mwa-Cimbundo”…

Ninguém se conteve, nem mesmo o carcereiro que andava à solta a procura de zaragateiros, que existiam aos montes, para meter em acção o seu predilecto porreto de borracha.

Santula pôde, finalmente e por alguns instantes, interromper aquele rosário de pesares e, por uns curtos segundos, desfrutar do que muito gostava de fazer em horas vagas: Troçar e rir de bandeja farta.

Cikolasonyi que nunca “engoliu” nenhuma ciência trazida pelos brancos também nunca lhe passou pela cabeça que aquele objecto transmitia apenas a música de alguém que podia estar em local muito distante e incerto, sendo a caixa apenas um reprodutor de “recados”. Para ele, só podia ser uma pessoa escondida dentro do aparelho e que ao vê-lo aproximar-se para o tocar, de imediato o questionou da sua prolongada ausência, como diria no seu habitual Cokwe: ca kumwene!

Não fosse a rudeza do Tira Sangue, um pilha-galinhas dos musseques calús , um dia destes tiraria a dúvida. Estava decidido em desmontar o rádio e ver quem se alojava dentro daquelas pequeníssimas paredes de madeira, vidro e plástico. Queria ver o tal branquelo com aquela voz de gente fina e farta de benesses, bem-disposto, dando ordens e sango ou cantando sem soluçar. Foi uma pena!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

DO PUNHO DOS OUTROS (I)

PONTO PRÉVIO:
1- Não sou crítico literário, muito menos um escritor consagrado. Sou apenas um amante da literatura e com apenas um rebento trazido à luz. Tudo o que faço é por gosto e convicto de que é exercitando que se "dá forma à pedra".
2- Começo essa aventura (DO PUNHO DOS OUTROS) trazendo escritos de outros confrades, para que: tal; como eles me dão a conhece nas suas páginas, por este blog se conheçam também os feitos/escritos dos meus confrades e amigos de peito.

Espreitando a "prosa poética e melancólica" de Armando Graça, um luso-angolano, emigrado para a metrópole nos tempos da Revolução dos Cravos, encontro na sua proposta de leitura esta "preciosidade" que resumida pelo editor, levo ao conhecimento do meu leitor.

"Memórias de Gente Vulgar" levam-nos a fazer uma viagem das origens do autor aos dias de hoje (1945-2010).

Como o título deixa antever, não há aqui berços de ouro nem se trata de desfilar de sucessos, bem pelo contrário. Revelam-se aqui como enfrentaram as dificuldades muitos dos portugueses nascidos logo após a II Guerra Mundial. E dá-se conta como a procura de vidas melhores dá lugar a infâncias conturbadas.

Entra-se em África, pela Baía de Luanda, retendo cheiros, cores e sabores de um novo mundo.

Relatam-se aventuras escolares e desventuras de prematuros empregos. E sentem-se...

Sentem-se servidões, colonislismos e racismos oficialmente desmentidos.

Sentem-se alguns dos terrorres que deram lugar a nova fuga, então apelidade de "retorno"...

Sentem-se as aventuras de quem volta ao seus país e se acha no estrangeiro, seja porque é mesmo assim, seja porque a Revolução dos Cravos agitou alguma coisa...

Sentem-se, ao longo de várias décadas, governos que desgovernam, empresas geridas para afundar e pessoas que não se comportam como tal...

Mas sente-se, acima de tudo e apesar de tudo, um constante fazer pela vida...
(...)".

É esta prosa que nos oferece Armando Graça, também meu revisor, a par de José Soares Caetano (autor de "O Último Segredo" - UEA/Edições Novembro, 2010), no seu "Memórias de Gente Vulgar" cujo lançamento em Portugal está agendado para os primeiros dias deste mês de  Fevreiro/2011 em Portugal.

Espero que o livro chegue às mãos dos angolanos sedentos de "leitura limpa"  ou no mínimo esteja à disposição dos cibernautas.

Voce pode ler um pouco aqui: http://www.sitiodolivro.pt/fotos/livros/excerto-memorias-de-gente-vulgar_1290100247.pdf