quarta-feira, 20 de abril de 2016

CAMINHOS EVITÁVEIS

Na áurea das independências, e influenciados pelos ventos revolucionários e ideologia dos países do Leste europeu, dois Estados da conhecida Região do Corno de África decidiram fundir as suas fronteiras num acto que visava aproximar os dois povos que comungavam de culturas e valore muito parecidos.
Essa visão política estendeu-se ao fórum empresarial e económico. Algumas firmas do pais Ericeira estabeleceram parcerias, face a existência de novas oportunidades de mercado e possibilidades de expansão de negócios.
Tonka Incorporated, uma firma que dominava o segmento da prestação de serviços de higiene e segurança em instituições públicas, bem como a gestão e aplicação de políticas de Recursos Humanos, tinha uma considerável quota de mercado em Ericeira e um excesso de liquidez que permitia a empresa explorar a oportunidade criada pela conjuntura exógena, a fusão dos territórios entre Ericeira e Entropia.
Em viagem de serviço a capital de Entropia, que se tornou a segunda cidade mais importante do Estado Unificado, Sir Kato Ndombele, o patrão da firma KatOn Service Incorporated, conheceu Hamed Tonka, o Presidente do Conselho de Administração da firma Tonka Incorporated, e com ele decidiu estabelecer uma parceria, criando uma fusão entre as duas empresas, tempos depois, antecedida de aturadas negociações.
A KatOn era uma empresa com reputação ao nível do continente africano e de alguns países do sul da Europa em termos de gestão de Capital Humano e prestação de serviços. Porém, as transformações políticas no país e as nacionalizações ocorridas em Ericeira não facilitaram uma expansão dos seus negócios, muito menos criar uma almofada financeira que permitisse atacar o novo mercado que surgiu com a fusão dos dois Estados vizinhos. Os quadros da KatOn tinham porém a fama de terem trabalhado em grandes multinacionais, gozando, por isso, de grande reputação junto de outros parceiros empresariais e organizações governamentais.
A Tonka, empresa da Entropia, viu nela uma parceira capaz de agregar valor aos seus recursos financeiros excedentários.
Fundidas as empresas Tonka e KatOn, a nova entidade jurídica passou a designar-se Toka International, sendo grande parte da sua gerência confiada aos executivos procedentes da KatOn, que era minúscula em termos de estrutura, mas robusta em termos de know how e qualidade do seu Capital Humano. A sede da nova entidade empresarial, a operar no território unificado, passou a ser a antiga Base Central da então Tonka Incorporated, o que levou os funcionários mais antigos da Tonka a tratarem os seus novos colegas com os mais variados epítetos depreciativos. Eram tratados como "estrangeiros, invasores, usurpadores de cargos, etc.",  situações que a juventude bem disposta, comprometida e motivada, procedente da KatOn, geria com inteligência e postura institucional.
- O nosso lema é trabalhar, fazer a nova empresa crescer e crescer com ela. - Diziam os jovens executivos saídos da KatOn.
De simples alegações ciumentas, passou-se a confrontos verbais mais acirrados que chegavam, em muito dos casos, a inviabilizar alguns planos de crescimento da Toka International.
Como as lideranças estavam mais focadas na consolidação da fusão e desenvolvimento da nova estratégia de negócios propiciada pelas razões endógenas (excesso de liquidez e domínio de consideravel quota de mercado por parte de Tonka e elevada preparação técnica dos quadros da KatOn) e pelas razões exógenas (fusão dos dois países, crescimento económico e restruturação das instituições públicas), preferiram tocar o negócio para a frente, buscando apenas a participação daqueles que estavam interessados em trabalhar, fossem quais fossem as suas funções hierárquicas nas equipas. As lideranças intermédias rapidamente interpretaram o pensamento estratégico e começaram a trabalhar com os quadros disponíveis, ficando sem trabalho aqueles que, a todo o custo, puxavam a carroça para trás ou usavam a táctica do caranguejo (não permitir que alguém trabalhe ou colabore). O curso dos acontecimentos levou a que os quadros da Tonka que aderiram à nova filosofia de trabalho aprendessem com os outros provenientes da KatOn e se especializassem em distintos ramos do saber. Às cegas ficaram aqueles que desistiram de trabalhar, procurando apenas conspirar contra as novas lideranças da Empresa Unificada e os colegas que tinham aderido à nova filosofia de trabalho.
Vinte anos depois, o Leste europeu conheceu outros desenvolvimentos políticos, com maior realce para a queda do Muro de Berlim, que levaram à desintegração de Estados em alguns continentes desanexações de territórios, efeitos que se estenderam a países que orbitavam na esfera ideológica do Leste europeu. Isso fez com que a integridade do Estado Unificado de Ericeira-Entropia fosse afectada, repercutindo-se também em alguns negócios empresariais, sobretudo os actores que trabalhavam com instituições públicas.
Da Toka International ressurgiram duas novas entidades empresariais que passaram a actuar com a mesma tecnologia e conhecimento nos países (re)emancipados.
- Chegou a nossa hora de governar o país e a empresa, terminada que está a ocupação ilegal dos nossos postos de trabalho e de chefia. - Proclamou a velha guarda resistente da antiga Tonka de Ericeira.
Os jovens competentes, formados no tempo da fusão, foram relegados para planos secundários na organização, sendo catalogados como "produto da colonização empresarial", ocupando a velha guarda os postos de decisão na empresa.
Aqueles que, sendo da mesma geração que a velha guarda tonkanense, tinham aderido às novas formas de trabalho, no tempo da gigante Kato International do Estado Unificado, também foram ostracizados sob a alegação de "se terem juntado ao colonizador".
- Quem se juntou ao opressor que invadiu a nossa empresa e tomou os nossos lugares, agora que nos livramos deles, deve partir ou sujeitar-se à nova ordem. – Apregoavam eufóricos.
O poder de transformar a empresa e seguir o seu percurso de crescimento e expansão tinha-lhes sido entregue. Porém, os vinte anos de defeso, sem trabalho e contacto com as novas ideias e novas tecnologias, fez deles maus líderes e maus obreiros. De uma imponente empresa que foi antes e depois da fusão, a Tonka não passa hoje de um impotente manto de retalhos, com tecnologia e capital humano a reclamarem por uma reforma profunda.
Do outro lado, em Entropia, segue de vento em popa a KatOn International que absorveu da sua antiga parceira o conhecimento de mercado, capitalizou os investimentos herdados com a fusão e conta com os seus quadros cada vez mais qualificados.
Quando se realizam fusões de organizações empresariais, independentemente da procedência, quantidade de quadros indicados para a gestão e do peso que tenham ou venham a ter na organização, é importante que cada uma das partes fundidas ou componentes das partes deem o seu máximo para a consolidação da nova entidade. Todos os integrantes devem absorver as vantagens da fusão e da interação com os outros actores (que se juntam à nova organização).
Ficar na sombra, a reclamar o declínio dos gestores no activo, pode ser perigoso para quem arme este estratagema como forma de reivindicar o poder, pois, uma vez no exercício do poder reclamado, pode ver-se despido de ferramentas para a exercitação das funções que lhe foram confiadas. Ficar na sombra, a torcer pelo descarrilamento do comboio, para depois tomar o lugar do maquinista azarento, poder ser uma estratégia perigosa como se verificou entre os integrantes da firma Tonka de Ericeira que deitaram a baixo até o que de mais valioso tinham conseguido com muito labor: o supervait e considerável quota de mercado ericeiriense no domínio da prestação de serviços de higiene e segurança em instituições públicas, bem como a gestão e e aplicação de políticas de Recursos Humanos.
Nota: a presente reflexão é produto de criatividade aliada ao estudo de casos científicos no curso de MBA realizado na FAAG, não se dirigindo a pessoas e ou instituições concretas de nenhum Estado ou território.

NB: Texto publicado pelo Semanário Angolense a 06.11.2015

sábado, 9 de abril de 2016

OS TRÊS RELÓGIOS

Discutiam três colegas de serviço sobre quem delas era mais útil à organização em que laboravam.

Suraya, esbelta de parar o transito, gabava-se de ser a mais elogiada e que tudo fazia para impressionar os colegas e a chefia todos os dias. Atendendo que os chefes tinham decidido ser madrugadores, ela, catadora de elogios, começou também a chegar cedo ao serviço, gingando de um lado para sitio incerto. Porém, mal começassem a chegar os colegas sem olhos para a sua montra, ela se retirava para o andar em que se situava o secretariado onde se ocupava mais em buscar actualidade do mundo da moda, através das redes sociais, do que do seu trabalho que até estava clarificado no descritivo de funções. E gabava-se de sol a sol que era pontual.

- Nessa organização não há quem chegue mais cedo do que eu, por isso mereço promoção e uma gala para me homenagearem. - Atirou, certa vez numa actividade social da organização.

- Você, Suraya? Nunca. Nem pensar. Nem que a vaca fale. Chegas cedo mas não és assidua. És uma pisca-pisca (dia sim, dia não vens) e quando se olham para os teus resultados parece que só são borboletas que caiem no teu cesto. - Zombou Tina, outra colega que tinha a má fama de trabalhar apenas quando a lua estivesse no centro da circunferência celeste.

A discussão, aparentemente sem nexo, ganharia força quando chegou Rita. Rita era uma senhora "Baby boom" que fora já reformada e recontratada devido ao seu apego ao trabalho e seu perfeccionismo naquilo que fazia. Não precisou de fazer parte daquela histérica algazarra, pois era exemplo de dedicação, bom desempenho e comprometimento. Vestia a camisola, via-se. Entretanto, não era tão pontual, nem muito assídua devido aos compromissos familiares. Era do conhecimento da chefia que dela cobrava resultados e não presença física obrigatória. Dona Rita, ou mesmo vovô para os mais brincalhões, tinha entretanto uma agenda de encontros presenciais bem arrumada e não se atrasava às suas reuniões. Das suas poupanças tinha conseguido instalar telefone fixo e internet em casa, um computador, impressora e um scanner que lhe permitiam trabalhar "at home" e apresentar resultados surpreendentes.

Quando a senhora se fez presente naquela sala em que se comemorava o aniversario da organização, dois grupos miravam para ela toda a atenção: uns, sobretudo aqueles que enxergavam qualidades e que com ela procuravam aprender, seguindo os seus bons exemplos, a aplaudiam e apontavam como a mais provável homenageada da noite. Era já habito do titular de direcção daquela organização homenagear o trabalhador mais produtivo do ano. Outro grupo, composto maioritariamente pelas gerações Y e Z cochichavam que a "velha" já estava fora de tempo e que naquele ano não levaria sequer um elogio do chefe. Apostavam mesmo que a "senhora dos mil prémios" como também era conhecida sairia dai banhada de lágrimas porque o tempo dela já tinha passado.

- Essa tia que chega quando quer, até o chefe já sabe que ela é uma cansada e chata, o que que veio fazer? Acha que leva daqui alguma coisa? Atirou Gina, uma jovem que ainda nem era do quadro permanente de funcionários.

Quando o titular chegou, mal se dirigiu ao presidiu para cortar o bolo, chamou dois nomes: Dona Rosa, a mais idosa da organização, e Dra. Suraya, uma das mais novas e mais extravagantes, para junto dele.

A Suraya já tinha distribuído beijinhos e abraços a todos os colegas, contando que seria a estrela iluminante da noite.

- Chamei as duas funcionárias que refletem dois exemplos de na nossa organização. - Disse o titular, prosseguindo. - A dona Rita é quase invisível. Chega numa altura em que todos já estão nos seus gabinetes e muitas vezes sai quando todos estão já nos seus aposentos. Até seus encontros com clientes e fornecedores acontecem sempre depois das 8h30. Faz tudo ao detalhe e não deixa nada para o dia seguinte. A Dra. Suraya, continuou, é das que mais cedo chega, das mais vista pelos gabinetes e corredores. Porém, a medição que temos vindo a fazer é por resultados. A Dra. Suraya produziu durante o ano findo que hoje comemoramos, dois terços do que ganha e a Dona Rosa foi, directa e indirectamente, responsável, por um terço do resultado da nossa organização. Peço uma salva de palmas à nossa estrela da noite que ganha uma bolsa familiar para licenciatura. – Concluiu o boss.

Pasmos, os mais jovens não perceberam por que razão a sexagenária iria estudar quando eles que se gabavam ter "toda a vida e todo o sangue para derramarem em prol da organização" ficariam em terra. Jaja, outra das colegas, e Suraya chegaram mesmo a questionar os critérios usados pela administração para encontrar o vencedor do prémio de e por que razão iria Vovô Rita à formação, estando já sem força. Suraya alcandorou-se do facto de ser regular e por isso merecedora da distinção. Outra, a Jaja, apregoou a sua pontualidade. Mas o presidente, astuto, contou-lhes a estória sobre os três relógios: um é de prata, toca o despertador à hora certa mas não tem o ponteiro dos minutos. Outro é banhado em ouro e não funciona. O terceiro é de plástico metalizado e tem os ponteiros completos, marcando correctamente as horas e o despertador.

- Qual dos três me faz falta? Questionou o titular.

A geração Z optou pelo de ouro, alegando ser um adereço moderno e vistoso. A geração Y optou pelo de prata pois, dizia, embora mais modesto do que o primeiro, tinha algo funcional, o despertador, que permitia o titular não se atrasar nos seus encontros. As gerações M e X optaram pelo relógio de plástico banhado em metal por ser o que funcionava em pleno.

- Pois é, todos parecem ter razão, mas o relógio que me apresenta resultados é aquele que funciona. Assim também são os funcionários, prosseguiu. Não basta chegar cedo, quando se vem, ou vir todos os dias em horários distintos. Pontualidade e assiduidade devem ser regulares, estando acima de tudo a produção. As organizações são talhadas para os resultados e não apenas para as presenças físicas dos funcionários. -Deixou explícito o titular.

Todos compreenderam a mensagem e ouviu-se uma estrondosa salva de palmas em homenagem à sexagenária Rita.

Texto Publicado pelo Semanário Angolense a 21 de Julho de 2015

sexta-feira, 1 de abril de 2016

CANÇÕES DE ESTRADA


No mercado espontâneo surgido à beira da estrada, no local em que os carros que se fazem às províncias, atestam os depósitos de combustível e o estomago, o pregão dele é único. Samy corre de carro em carro com um leitor de CD e uma caixa repleta de discos pirateados na mão.

- É cê-dê origon, kota. Música de qualidade que não te deixa mal durante toda a viagem. Quem "me" compra "vorta" sempre a me procurar na próxima viagem. – Apregoa Samy.

Cabelo comprido a fazer sair uma crista que lhe percorre o ngwimbu à testa, Samy vive desse negócio há já cinco anos e com os frutos sustenta a mulher e três filhos.

- Kota - voltou a chamar-me – já ouviste esse disco (apontava para um que tinha a inscrição "rir até mostrar o último molar"?!

- Não, puto. Ainda não tenho. Mas de quem é o disco?

- É teu, kota. Passa só duzentos paus. Com cento e noventa também bate. - Regateou.

Meti a mão na algibeira e de lá saquei os Kwanzas necessários. Porém, a contra gosto, tratando-se de produto aparentemente contra feito embora o disco estivesse forrado em plástico.

- Kota, experimenta a faixa quatro. - Ordenou Samy, sorridente, enquanto ajeitava o kitadi na carteira. Liguei o rádio e fui, aos pulos, conferindo as músicas inscritas na capa, para depois as ouvir na íntegra ao longo do percurso que me leva de Luanda a Menongue.

"Se vais na província tenha cuidado. Na via do Dondo tem lá buraco. Buraco bué", soltou o rádio.

- Epá, grand´a queta. Está mesmo a condizer com o estado "caprichado" da via. Será que o cantor tem circulado por aqui todos os dias? - Interrogou um dos meus dois passageiros, sem que obtivesse de minha parte uma pronta resposta.

Eu saboreava a alegria de ter acertado na escolha do disco e o ocupante do banco de trás conferia as últimas novidades do facebook. Apenas o mais velho colocava perguntas ao longo do percurso, ou para explicar algo que tenha vivenciado no seu tempo de juventude ou perguntando sobre coisas novas com que se vai deparando pela primeira vez.

E a letra da música, que parecia ter sido feita à medida, prosseguia nos apelos à prudência: via do Dondo tem la buraco; na do Libolo tem lá buraco; da kibala bue de buraco; no Bailundo vão já cavar; toda angola está um buraco; mas a taxa já está no pontoé! – Terminava de forma satírica a canção.

Até concluir os primeiros 750quilómetros que separam Luanda das terras planálticas do “olongombe Vye”, não se ouviu outra balada que não fosse essa, do grupo humorístico "Estamos a vir" que é um retrato fiel de muitos troços das nossas estradas aí aonde a incúria de "quem de direito" ainda se faz sentir.


Do Kuito a Menongue, viajo sozinho sobre as estradas largas, rectilíneas e bem conservadas do centro e sudeste de Angola, acomodado ao volante da minha Maria Canhanga (viatura em que me faço circular). Ela comporta-se como mãe que nunca deseja que o mal se acapare do filho. Aliás, vou acompanhado do Justino Handanga instalado no leitor do meu rádio, cantando os benefícios da paz. E diz, o bom do Handanga, no seu sempre bem pronunciado umbundu "a Suku lombembwa, ndapandula avoyo!
Ndakulihile ño o misäwu yo Ndondi. Vavayela vo Mbongo. Elende vo Cipeyo. Ndamosiwila vemi lyomunda vo Hanga" (Agradeço, Senhor, pela paz que me permitiu conhecer a missão de Dondi, Vavayela/Babaera no Mbongo, Elende no Cipeyo e a montanha do Hanga…).
Embora o administrador “Andonho Kotingo tenha chorado ao ver a missão destruída e os eucaliptos secos", canta ainda Handanga,  a paz permite ter esperança de que o quadro seja revertido. E observei que aquilo que se passa no oeste (reconstrução e construção) está também a acontecer no centro de Angola onde Cachingues é u exemplo do que é começar do zero uma vila completamente arrasada pelas inúmeras refregas militares.

Em relação à agricultura, fiquei sem saber se as casas tinham sido implantadas no meio de milheiro ou este fora semeado nos espaços entre casas.

Chegado ao sudeste, o mesmo cenário inovador. Também verifiquei que ou o velo, destruído pela guerra havia sido reabilitado ou entre os escombros e próximo deles nasceram novos edifícios que conferem alegria às circunscrições. Notei que as margens das estradas estavam literalmente agricultadas de mandioca, milho, massango e massambala. Sendo milhares de hectares lavrados, desafiando a tenacidade da floresta húmida e densa.

E fiquei a pensar nos machados, buldozers e outros meios empregues para derrubar tanta árvore e fazer do bosque campos produtores de alimentos. Bons exemplos desses povos, ovimbundu e ovingangela.
Com tanta floresta, fiquei também a pensar por que razão a guerra terá sido muito renhida no Sudeste angolano, não tardando a resposta que veio logo a seguir.

- Muita mata. Muito esconderijo, até da aviação. E como se não bastasse, muita comida produzida pelos coitados dos populares que eram assaltados dias sim, semanas também pelos insurrectos sem logística militar.
Ainda bem que os tempos são outros. As florestas que serviam para o esconderijo de malfeitores dão hoje sustento a gente que trabalha, proporcionando madeira, carne de caça e mel.

Estou no sudeste, em Menongue (ex-Serpa Pinto), Cuando-Cubango, faltando-me apenas conhecer a antiga Carmona. Já vi o rio Cuebe que trespassa a cidade construída sobre as terras do Mwene Vunonge e recebi o forte abraço do simpático Carlos Bequengue da Rádio KK.
De Luanda-Dondo- Huambo-Cuito e Cuito-Menongue, a EN 140, último trajecto, me pareceu ser das melhores estradas que há em termos de transitabilidade. Tive o mesmo gozo nos trajectos Alto Hama-Huambo ou ainda Alto Hama-Cachungo-Cuito. Fiz gosto ao pé e testei a Maria (nome da Hilux vermelha que me carrega) que correspondeu em velocidade, consumo e estabilidade, fazendo-me esquecer o António (Tucson marron) que é automático.

Tri-ti-ti (alusão à guerra, música cantada por Viñi Viñi), nunca mais, nem haverá mais gente a “partir londango por causa do lukangu”, como acrescenta Kapenda Salongue.

Publicado pelo jornal de Angola de 21.04.2019