quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A GALINHA SOLTEIRA E O GALO QUE NUNCA SE VIU AO ESPELHO

Kaxinda era uma galinha solitária. Kolombolo, o galo que sempre lhe foi fiel companheiro, foi abatido para alimentar uma festa de fim do curso do Sr. Kalipande, o dono da casa em que Kaxinda vivia. Os seus lindos filhos, Kimone, Sanuka e Ngwami Maka, também foram abatidos em outras festas que se passaram na mansão do tio Kalipande e sua mulher, dona Nzala ya Ifo.

Um dia, ao ver que o portão da casa estava aberto, Kaxinda decidiu espreitar a vida fora do quintal e verificou que havia muitos galos, galinhas, frangos e pintainhos que se deleitavam com a vida fora daquele muro alto e gradeado. Kimone bateu as asas, deu um pulo e saiu.

Na rua, foi recebida com cantos e cacarejos, embora criasse ciúmes a certos galos que se gladiavam por causa da sua beleza ímpar.

Wafwa Meso, foi o príncipe encantado que Kimone escolheu. Ele era tão grande e tão calvo que tinha a cabeça em forma de meia-lua e a crista cheia de crostas e cicatrizes . Wafwa Meso vencia todas as lutas e tinha, por isso a simpatia de todas as galinhas daquela rua.

Depois de muito esgravatar a terra e conviver com os seus semelhantes, Kimone decidiu voltar à casa. Eram já treze horas, altura em que os meninos da primária voltavam da escola e o portão se voltava a abrir. Wafwa Meso, o namorado encantado, foi acompanhá-la e também entrou na mansão, sendo bem recebido pelo cão Mukwateno que cabriolava na relva e pelo pequeno Mwana Mwata, o kaçula da casa.

Enquanto Kaxinda passeava pelo quintal, como quem mostra a casa ao visitante, Wafwa Meso, que também enxergava mal, não se cansava de olhar para os vidros das portas e das janelas que reflectiam a sua imagem. Dentro de si terá pensado que havia à sua frente um outro galo e que cobiçava a sua nova namorada.

Wafwa Meso ensaiou posições de ataque e atirou-se várias vezes contra a porta fechada.

Aflita com a pequenice daquele galo grande, Kaxinda cacarejava cada vez mais forte, em jeito de correcção. Mas Wafwa Meso estava cego de tudo e não conseguia entender a razão do chamamento. Continuou a lutar contra a sua própria imagem reflectida no espelho.

O galo tanto lutou que acabou desmaiado na relva onde o aguardava o cachorro Mukwateno que o atacou pela garganta até não poder respirar. O rapaz Mwana Mwata ainda tentou acudi-lo, mas já era tarde. O galo morreu asfixiado e foi entregue aos seus donos que confeccionaram uma apetitosa cabidela.

Kaxinda continuou solteira e nunca mais decidiu levar à casa um galo que não tivesse vidros reflectores em sua casa, para não voltar a passar tamanha vergonha.

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