FI-DA-CAXA! é para mim uma interjeição e não "palavrão". É nessa acepção que espero entendam a utilização do étimo nessa crónica.
Fi-da-caxa! Estorvaram-me
a prosa com o kamba de ofício. Nosso encontro foi inesperado.
Eu o imaginava em Katumbela e ele contava-me em Sawlimbu. Ali mesmo no chão do aeroporto, rua primeira de quem espreita o Kasekel[1], eu saído do cheiro e clima doutro mundo a apanhar balanço para nova vida na Ngwimbi[2], ele no intervalo duma acção de kudilonga[3], cruzamos, cara-a-cara. Se um fosse kilapeiro[4] do outro não teria nem buraco para se esconder.
Eu o imaginava em Katumbela e ele contava-me em Sawlimbu. Ali mesmo no chão do aeroporto, rua primeira de quem espreita o Kasekel[1], eu saído do cheiro e clima doutro mundo a apanhar balanço para nova vida na Ngwimbi[2], ele no intervalo duma acção de kudilonga[3], cruzamos, cara-a-cara. Se um fosse kilapeiro[4] do outro não teria nem buraco para se esconder.
-Epá!
Confrade, não te imaginava aqui e plenamente hoje. Vieste em bumbas[5] ou em turismo
sobre rodas? - Metralhei-o, logo logo, com perguntas.
- Yá. Vim numa formação. É preciso nos aperfeiçoarmos. Estou já há umas semanitas. - Defendeu-se.
- Yá. Tenho lido o teu diário, mas pensava que fossem escritos buscados dum baú recente.
- Pelos vistos estás a chegar... tens novidades literárias?
Mal começamos a falar sobre um dos aspectos que nos tornam umbilicais, a escrita e as publicações para Novembro, quatro carros da patrulha conjunta, entre fiscais e policias, pararam repentinamente colados a nós, com os "comandos" a pularem por cima dos zungueiros[6] de saldo e mawanas[7] de sol. Parecia kitota[8] nos tempos do mano Barbudo ou rusga do luz-e-tano Poeira quando encheu as cadeias pidescas de revoltosos tunda mindele[9].
O resto da prosa, depois de minutos de separação, porque cada um de nós (mais ele do que eu que ando kasimbado[10] nestas guerras de fiscais contra vendedeiras) fugiu para sitio diferente e distante para escapar daquele "assalto", foi apenas um chau apressado com o coração em alta rotação.
- Fidacaxa dos fiscais! Com as zungueiras até parece que fizeram curso de pular, puxar, apanhar coisas esquecidas ou caídas na fuga e guarda-las rápido e de caxexe[11] no carro. - Atirou o puto Sofrimento Moderno, também conhecido no aeroporto por SM, que obteve o contributo de um colega de desgraça:
- Yá. Vim numa formação. É preciso nos aperfeiçoarmos. Estou já há umas semanitas. - Defendeu-se.
- Yá. Tenho lido o teu diário, mas pensava que fossem escritos buscados dum baú recente.
- Pelos vistos estás a chegar... tens novidades literárias?
Mal começamos a falar sobre um dos aspectos que nos tornam umbilicais, a escrita e as publicações para Novembro, quatro carros da patrulha conjunta, entre fiscais e policias, pararam repentinamente colados a nós, com os "comandos" a pularem por cima dos zungueiros[6] de saldo e mawanas[7] de sol. Parecia kitota[8] nos tempos do mano Barbudo ou rusga do luz-e-tano Poeira quando encheu as cadeias pidescas de revoltosos tunda mindele[9].
O resto da prosa, depois de minutos de separação, porque cada um de nós (mais ele do que eu que ando kasimbado[10] nestas guerras de fiscais contra vendedeiras) fugiu para sitio diferente e distante para escapar daquele "assalto", foi apenas um chau apressado com o coração em alta rotação.
- Fidacaxa dos fiscais! Com as zungueiras até parece que fizeram curso de pular, puxar, apanhar coisas esquecidas ou caídas na fuga e guarda-las rápido e de caxexe[11] no carro. - Atirou o puto Sofrimento Moderno, também conhecido no aeroporto por SM, que obteve o contributo de um colega de desgraça:
- Yá. Tipo nada. Mwadyé[12] distraído pensa que não houve nada. Tipo guerra relâmpago do Adolfo da Alemanha quando queria reino mundial de mil anos. Mas "lhe" saiu pela culatra.
- A quem é que entregam as coisas kasumbuladas na rua? - Perguntou ainda uma mana, Belita nome dela, enquanto limpava a nova ferida do encontrão que teve com uma arca antiga de vender bebidas.
Resposta,
ninguém só lhe deu e vai ficar toda a vida com a raiva dela sempre que olhar
para a cicatriz.
Os
magalas a exibir banga[13], pareciam que
treinaram comandos no Cabo Ledo para irem metralhar os carcamanos[14]
reaganistas-malanistas e seus apaniguados mwangolês[15] no Kwitu
Kwanavale de 1987.
-
Fidacaixa! Força deles é só com os zungueiros de cuecas, saldo, magoga[16], fio dental de
mulher que quer já já e mawanas de sol. No tempo em que barbudo nos intimidava
eram capazes até de andar com a cauda entre a muxaxala[17]. Cambada de
gregos! - Raiva de Miguelito era grande que nem mesmo o desabafo carregado de
alguma malícia atenuou a força da pedra que aquela acção lhe calcou no coração.
Quem também lhes xingou, com todos os verbos, tempos e modos, foi Mariquinha que viu entornada a sua bancada de magoga e "bebe-me-deixa"[18].
- Com grego igual não torram farinha. -Atirou. - Por que não vão ainda se medir capacidade com os gregos do Sambila, do México, do Sete e Meio, do Ngwanhã, dos Ossos, do Saber Andar, da Fubu e doutras bandas onde a polícia é quem bate continência aos bandjus? Gregos de meia tigela, mazé pá! Quando o Barbudo nos ameaçou empurrar o comboio com os beiços andaram aonde? Me totolei[19] só no pé!
E eu, repleto de vivências, mochila nas costas, pé no ngwimbu[20] para soltar ao vento o que meus olhos viram e meus ouvidos registaram. Saí voado!
[1] Bairro
de Luanda; areal (grafia kimbundu).
[2] Calão
de Luanda; alusão à capital de Angola.
[3] Aprendizagem;
ensino; curso (kimbundu).
[4]Devedor;
calão de Angola.
[5] Trabalho
(calão).
[6] Vendedores
ambulantes; do kimbundu zunga=andar sem destino.
[7] Óculos
de sol (calão).
[8] Guerra.
[9] Saiam
os brancos; alusão à luta pela independência (kimbundu).
[10] Calejado
(calão); alusão a quem tem muitos kasimbus (anos) de ofício.
[11] De
soslaio.
[12] Individuo
(calão).
[13] Estilo;
exibicionismo.
[14] Assim
eram designados os invasores sul-africanos no tempo da guerra em Angola.
[15] Angolanos
(calão).
[16] Sandes.
[17] Entre
as nádegas.
[18]Refrigerante
em PET de meio litro.
[19] Tropecei;
bati (kimbundu).
[20] Nuca
(calão).
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