Tá maluka, avô chegou, kaleluia são designativos da mota de três rodas (coexistem também as de seis rodas adaptadas para cisternas de transporte de água). A esses nomes, oriundos da rica invencionice angolana, junta-se outro, por ironia coincidente com a designação de uma municipalidade aonde os carros chegam a custo. Nâmbwa. Isso mesmo. Diminutivo de Nâmbuangongo que fica na província do Bengo.
Não sei por que "carga d'água", as kaleluia no Bié, Huambo e Benguela ou tá maluka no corredor leste/tucokwe foram rebaptizadas de Nâmbwa, depois de conhecidas, entre os povos ambundu das cidades, por "avô chegou", alusão à capacidade de transporte de imbamba que só mesmo as avós (avô de mulher) têm paciência e amor para tal.
As primeiras vezes que ouvi falar sobre Nambuangongo ou Nâmbwa e sua árvore ande se confeccionavam luandos (muxi-a-lwandu) era sobre a tenacidade e coragem dos guerrilheiros do MPLA que ali montaram, sem nunca fraquejar, a Primeira Região Político-Militar.
Soube, contado pelos livros e pela oralidade dos adyakime, que "não foi fácil manter o povo organizado e combativo nas matas da região, arreigado na luta contra o colono kaputu e, outras vezes, nos reencontros com os irmãos da UPA".
Os rapazes que cantam "deixa de falar na minha amiga é yabará, kiwaya ou kilapi" também trouxeram o Nâmbwa ao live da televisão que diz "somos todos nós" e mostraram a riqueza cultural da região ao país e ao mundo. Mas sobre o Nâmbwa do futuro, que devia ser já presente, pouco relataram nas canções.
Já na Angola recente, com as estradas a chegarem mais distante, ecoam gritos sobre o estado "lastimável" das picadas. Vozes bem audíveis reclamam "porquê que estando Muxaluando (a sede do Nâmbwa) bem perto de Luanda, a poucos quilômetros de Kaxito, não tem estrada asfaltada".
Vieram promessas, até mesmo adjudicação de obras para que os carros de todas as cilindradas, tamanhos, bolsos e gostos chegassem por lá.
Em conversa, um amigo natural de Muxi-a-luandu (como ele gosta de diferenciar na pronúncia do topônimo) que foi pioneiro na guerrilha, conferiu, a brincar, que "muitos que por lá fizeram a tropa de guerrilha e da salvaguarda da independência subiram na vida e também têm seus carros que gostariam de mostrar os tios e avós que ficaram na banda".
- Como é possível que a minha mãe, para ver o meu carro, tem de vir a Luanda por cima de um Nâmbwa e eu não posso ir mostrar os frutos da participação na guerrilha, formação e trabalho árduo? - Questionava-se o sexagenário., acrescentando "é por isso que temos de gritar até sermos ouvidos".
Via noticiários soube que o Nambuangongo terá já estrada asfaltada e o meu amigo poderá ir, sem enfrentar buracos no período de cacimbo ou lama no tempo chuvoso. Os Nâmbwas vão deixar de fazer viagens longas e cingir-se ao transporte de banana e mandioca da lavra à vila. Afinal, o Nambuangongo é berço da nossa luta, parte da nossa pátria e da nossa História e merece o melhor que outros já têm.
Sem comentários:
Enviar um comentário