terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

NUM "MATONGÊ DAS ARÁBIAS

Que o indiano é comerciante e emigrante por excelência, você, eventualmente, já sabia. Que os "zazás" não se lhes ficam atrás na kandonga e na exportação da sua cultura alimentar para aonde quer que estejam, também é líquido. A novidade deve ser o "casamento" entre o comerciante indiano e a tia congolaise que confecciona e vende fufu, sakamadeso e makayabu.

O ponto geográfico aponta para Deira, uma zona comercial do tipo São Paulo de Luanda ou Hoji-ya-Henda dos anos 90/2000. Aqui, os indianos, paquistaneses e outros "eses" ficam quase num "chega-chega" à minha lojeca, com produtos sem preço que vendem ao critério da pressa ou desatenção do putativo cliente, sobretudo na hora da pausa para o almoço e ou reza muçulmana em que quase tudo fecha.
Uns até chegam a fechar os clientes na loja para melhor os convencer a comprar e ou desistirem de perguntar/procurar por preços mais convidativos.
Mas deixe-me narrar o "matongê".
A fome daquele dia e hora era intensa e não havia mais tempo a perder. Quando o vendedor de periféricos electrónicos nos abordou, apontámos-lhe apenas a boca e a barriga, o que o levaria a perceber a nossa angústia e desistir, temporariamente, do seu "come in, i'l give you a very good price".
- We want eat. - Falei-lhe.
O homem olhou para nossa tez amelaninada e terá também medido o "volume" da nossa fome.
- Came on. I will show you where you can find what you need", disse, num inglês de tom arranhado e de fácil compreensão para um beginner.
Atravessámos um prédio na diagonal, adentrámos outro, subimos num elevador e no terceiro piso, que se parecia a uma vivenda, adentramos um restaurante(?) sem o cuidado que os asiáticos e europeus conferem a lugares para servir comida. Parecia algures no Palanca e tinha de tudo quanto a foto mostra e muito mais: cabritê, sakamadeso, mfúmbwa, fufu, mKaybu, peit'alto, carne seca e, se calhar, até carne de "primo" e makoso!
Por mais caricato que possa parecer, enquanto levávamos ao estômago as "bolas" de fufu, embrulhadas em folhas de maniôc, o comerciante espreitava de cinco em cinco minutos, apelando que não deixássemos de passar pela sua lojeca de bujingangas e outras modernices de curta duração e serventia.
É como se pretendesse deixar clarificado: mostro-vos a comida de vossa terra mas tendes de deixar moedas no meu mealheiro!

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