quinta-feira, 1 de maio de 2025

"A FALTA DE MOTIVAÇÃO E IMPACTO NOS COLABORADORES" AOS OLHOS DE LÍZIA HENRIQUE

 DALAI LAMA UMA VEZ DISSE “TODA ACÇÃO HUMANA, QUER SE TORNE POSITIVA OU NEGATIVA, PRECISA DEPENDER DE MOTIVAÇÃO”

Boa tarde a todos,

É com enorme prazer que vos dou as boas-vindas a esta sessão tão especial de lançamento do livro A FALTA DE MOTIVAÇÃO E O IMPACTO NOS COLABORADORES- UM ESTUDO DE CASO NO MINISTÉRIO DE GEOLOGIA E MINAS, uma obra que promete marcar não só os leitores, mas também o panorama literário nacional.

Hoje, temos a honra de contar com a presença do seu autor, Luciano Canyanga, uma figura que se destaca pela sua sensibilidade, dedicação à escrita e pela forma como consegue transformar palavras em emoções vivas.

Luciano Canyanga tem vindo a construir um percurso notável, seja através da sua escrita envolvente, bem como da sua capacidade de observação da realidade.

Este, sempre esteve ligado ao jornalismo e comunicação institucional, mas foi nas vestes de Director de Recursos Humanos que se viu digamos, "forçado” a imergir nos desafios que encontrou no então Ministério de Geologia e Minas, quando convidado a dirigir o GRH, após colaboração em uma empresa extractiva (a Sociedade Mineira de Catoca)

Eventualmente, você pergunte: Que desafios encontrou?

 Meus senhores e minhas Senhoras estes desafios encontram-se no livro!

O livro em destaque, aborda um tema crucial para o desempenho organizacional, especialmente no contexto do funcionalismo público angolano.  

 

Este livro representa não apenas uma contribuição valiosa para o campo de Recursos Humanos, mas também um testemunho do rigor, da dedicação e da paixão que o autor deposita no seu trabalho. Ao longo das suas páginas, somos guiados por uma análise profunda, sustentada em investigação atualizada, metodologias sólidas e um espírito crítico exemplar.

A pesquisa realizada revela, que a falta de motivação é um dos principais factores que impactam negativamente o desempenho dos colaboradores, sendo um desafio significativo para a gestão de actividades no setor público.

Na referida pesquisa o autor utilizou métodos quantitativos e qualitativos, incluindo questionários aplicados a setenta funcionários, a fim de explorar as causas e consequências da desmotivação no então Ministério de Geologia e Minas.

O estudo, realizado no Ministério de Geologia e Minas, identifica que a ausência de políticas e acções voltadas à motivação, como o reconhecimento, a remuneração adequada e incentivos como o seguro de saúde e a formação, contribui para a desmotivação dos funcionários, cujos resultados negativos para a organização todos os gestores conhecem.

Entre as conclusões, destaca-se o facto de a motivação estar diretamente ligada à recompensa e ao estilo de liderança, e que as variáveis sociodemográficas influenciam os resultados. É ainda sugerido, que as lideranças devem repensar as suas práticas para melhorar o ambiente organizacional e a valorização dos colaboradores.

Para além do rico conteúdo, que é uma nítida fotografia dos desafios com que se debatem muitas das instituições públicas, para não dizer todas, o autor procurou, igualmente, preservar a história de um colectivo de colaboradores que cada um ao seu nível, procuraram prestar um serviço público digno e humanizado.

Hoje, infelizmente, não podemos dizer à nova geração que no Largo António Jacinto (conhecido como largo dos Ministérios) existiu um edifício que atendeu os Serviços de Geologia e Minas e, posteriormente, o Ministério de Geologia e Minas, pois este edifício (mostrar a contracapa) já não existe.

Termino com um sincero agradecimento à Luciano Canhanga, não só pela obra que hoje nos apresenta, mas também pelo contributo inestimável que tem dado ao desenvolvimento do conhecimento.

Convido agora o autor a partilhar connosco um pouco do seu processo criativo, das motivações por detrás deste livro e, claro, do que podemos esperar ao mergulhar nesta leitura.                  

Muito obrigado a todos pela presença.

Lízia Henrique

Em Luanda, aos 24 de Abril de 2025.

quinta-feira, 10 de abril de 2025

AS CHALADICES DO "BEBÊ"

Nota prévia:

O meu primo, de quem me fui despedir pela última vez (ele em outra dimensão da vida e eu nesta prevalecente e ainda racional), nasceu Kitumba. Uma razão terá existido para que lhe fosse atribuído um nome relacionado a amuleto feiticista. No registo civil, entenderam os pais dar-lhe um "pomposo" nome português e passou a Adriano Kambota. Quando fosse a Luanda, tratávamos-lhe por "Guerra fiz mal", em alusão a uma de suas calinadas quando se comunicava em língua portuguesa, dado que toda a sua comunicação era feita, essencialmente, em Kimbundu.

Também soube, da minha mãe, que o antropónimo Kambota está relacionado a uma praga de gafanhotos que aconteceu em um ano qualquer da década de 20 ou 30 do século XX. Primeiro surgiram os gafanhotos, vindos "dos céus" que devoraram tudo o que esverdecia. Chamaram ao fenómeno Ikoho [gafanhotada] e todos os que nasceram naquele ano ganharam o nome de Kikoho [grande gafanhoto ou gafanhotada].

Aditou ainda a septuagenária que depois de devorarem as lavras e o mato incultivado, "os gafanhotos ovificaram e nasceram outros menores em tamanho e quantidade. A estes insectos, menos 'agressivos' e lesivos aos interesses agrícolas do que os precedentes, tendo sido usados para 'forrar os estômagos', enquanto 'conduto', foram apelidados de kambota. Assim, grande parte dos rapazes nascidos naquele ano que a iliteracia não registou foram apelidados de Kambota".

O meu tio, que no registo civil ganhou o nome Xavier Kambota, nasceu no tal ano em que eclodiram os gafanhotos kambota, depois do ano dos kikoho.
Bem, a prosa é sobre Bernardo, rapaz do Dondo [Marginal], que me encontrou junto à barraca [cacussaria] da dona Páscoa, onde, normalmente paro para fazer a minha refeição de "meio-da-viagem" ou encomendo algo para abocanhar à chegada ao destino. Desde que o meu filho Arlindo entornou o frasco da dona Páscoa contendo a "farinha museke" que paro para adentrar a barraca dela, para pegar a encomenda feita previamente ou indico parentes e amigos a frequentar o sítio dela. Estão já transcorridos dez ou mais anos.
_ Papá, deixa-me lavar os teus ténis, é só duzentos. _ Atirou o bernardo, algo simpático e marketeiro.
_ Filho vou à lavra. _ Respondi, afagando-lhe os ombros.
_ Pai, pode limpar os ténis. É para os macacos te estranharem. _ Insistiu o Bernardo, com elevado sentido de humor.
Recebida a encomenda da Dona Pascoa, pois seguia apressado para a aldeia de Pedra Escrita [Munenga] para assistir ao óbito do meu primo Kitumba e não havia tempo para sentar e apreciar a chopa, levei a mão à algibeira das calças e a minha mão conseguiu "pescar" uma moeda de kz 50 que dei ao Bernardo. Este, sempre bem-humorado voltou a recomendar.
_ Papá, cuidado com buracos na estrada que estão a ser tratados como frangos.
_ Como frangos? Como assim? _ Retorqui.
_ Sim, Papá. Primeiro, deixam engordar, depois é que abatem [tapam].
Só quando estava a trafegar entre o desvio da hidroeléctrica de Kambambi e o [novo] Kyamafulu [ponte sobre o rio Kwanza] me apercebi que havia um trabalho de tapa-buracos que tinham deixado engordar.
...

Episódios ocorridos a 18 de Março de 2025. Texto publicado no Jornal de Angola a 23.03.2025.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Um "VIJU" NO DIA DOS NAMORADOS

(Extracto de "O relógio do Velho Trinta)

Ao chegar da viagem, no aeroporto internacional de Mwangope, uma inusitada conversa entre pai e filho atraiu a atenção de Satula que fazia contas para se desfazer, sem dinheiro, daquele recinto.

_ Pai! _ Chamou o rapaz, dez anos, mais ou menos. _ O papá não está a viajar à África do Sul por causa do seu cancro na próstata?

_ Sim filho. _ Respondeu Basílio de Melo. Sessenta anos, mais ou menos, e cabelo algodoado a embermar a pista encefálica.

_ E porquê que o papá disse ao senhor que nos saudou que tem sida, se o exame do médico diz cancro na próstata? _ Voltou a questionar o rapaz na sua inocência.

_ Filho! É preciso ser táctico. Ser vijú. Esses gajos andam de olhos no meu kumbú e na tua mãe. Assim, o boato se alastra e já ninguém colhe as minhas frutas! 
_ Respondeu Basílio, um conhecido empresário de Mwangope, desfazendo-se da incómoda pergunta do garoto que não percebeu a ironia. _ Olha, filho, vê aí se há algo que te agrada. _ Emendou.

Encostado a uma parede, Satula magicava o futuro. A reflexão durante a viagem remeteu-o para um estreito desfiladeiro. “Um empresário sem urnas e, pior ainda, sem as galinhas de ovos de ouro que eram os clientes ricos da zona baixa de Mwangope”. Faminto e cansado, sentia o chão a fugir-lhe. Faltava-lhe energia para se reerguer e chegar à casa. Decidiu caminhar até se acoitar debaixo de uma árvore, das raras que enfeitavam as ruas da cidade. Fez as contas do troco no bolso e traçou o plano: “andar num azul-e-branco até à casa custa, até ao fim do percurso que separa o Aeroporto a Vila Nova, um total de $400.00, valor dividido por 4 trechos de igual valor”.

_ Tenho que me meter mesmo neste carro da kandonga, que me vejam e comentem. _ Afivelou em voz baixa.

Umas vendedeiras da zunga que o ouviram a desabafar tentaram pôr conversa fiada, apenas para entreter.

_ Como é que um tio desses, assim com barriga tipo boss, vai andar no “conta novela” [1]?

_ Hum! Deve ser só barriga de mentira. _ Disse outra para depois troçar: _ Tio compra já mebendazol e num fica só com barriga tipo és boss, afinal é ‘mbora bichas.

Satula não deu importância à falácia e seguiu o seu caminho, trocando prosas com um companheiro de desgraça até à paragem mais próxima dos machimbombos.

_ Epá! _ Disse ele para o homem ao seu lado esquerdo _ Isso agora parece que está mais p’ro inferno do que para a urbanidade!

_ Sim, meu camarada! É só ver como andam as pessoas nos carros. Todos ensardinhados e a engolir cada vez mais poeira levantada pelos veículos...

_ É mesmo! Isso anda maluco! E nós que estamos mais no interior do que na capital sofremos mais ainda.

_ Pois é. _ Replicou Kitomangombe, o seu interlocutor, que vivia ininterruptamente na capital. Porém, a semana de ausência no Nordeste, também lhe causava estranhezas.

_ E como é que vais à casa? _Perguntou ainda Kitomangombe.

_ Epá! Eu me desenrasco... De qualquer meio que aparecer. Kupapata[2] ou mesmo “avó chegou” [3], tudo serve. _ Respondeu Satula, sempre irónico.

Kitomangombe seguiu o caminho do Roda Ponteiro e Satula dirigiu-se a uma agência bancária que ladeava a estrada da Revolução Bolchevique. Estava decidido em alugar uma viatura particular caso conseguisse dinheiro. Pretendia chegar cedo à casa, onde os filhos e a amada o aguardavam esperançosos. Afinal era Dia dos Namorados.

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[1] Nome atribuído aos autocarros devido à lentidão e demora que levava os frequentadores a contarem a novela apresentada na Tv para evitar a fadiga.

[2] Motocicleta.

[3] Motorizada de três rodas; vulgarmente usada pelas idosas provenientes das lavras ou dos mercados, transportando mercadorias.

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Publicado pelo Jornal de Angola a 16.02.2025

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O "PROSTÍBULO" DO ANDRÉ

André, jovem de 25 anos e culturista, era operador da Konica, a famigerada fotocopiadora nos anos 90 do século XX, na empresa Kuditemo Lda., maior fornecedor de kuribotices de então na regedoria de Kuteka.

Ao André Kitongo se dirigiam todas as secretárias e pessoal do expediente que, na ausência do jovem, deixavam os documentos por fotocopiar, apensando-lhes recados em post it de distintas cromagens e modelos: longos e estreitos, formato coração, verde-amarelado, verde-alface, cores quentes, frias e rosa e tantas outras que, com o tempo permitiam-lhe descortinar a origem do pedido e adivinhar a ordem de urgência.
Sempre que o André voltasse ao seu posto, executava as tarefas e levava as cópias aos solicitantes, conservando, no entanto, os post it que depositava em uma caixa para posterior contabilização e relatório de trabalhos efectuados.
Lembramo-nos de alguns:
_ André, quero frente e trás. Jéssica.
_ Querido André, hoje quero só de trás. _Bela.
_ Andrezinho, hoje tens de fazer rapidinho. Quero duas de trás. Rosa
_ André, sem demora, estou sem muito tempo. Quero de frente. Rápido... Andresa.
Tempos depois, o serviço mudou de instalações para obras de restauro. A caixinha de recados permaneceu naquele gaveto entre as duas alas do edifício. Vieram tempos de abandono, os mendigos, homeless, vagabundos e mulheres da vida fizeram das instalações o seu quartel. Alguns recados ao André foram materializados, mas a caixinha se manteve com a única alteração de ter ganhado poeira e bolor. Passou mais tempo. Vieram, finalmente os homens da empresa restauradora.
Os restauradores encontraram a caixa em que André conservara os recados, lendo, sem a devida contextualização os conteúdos ajindungados, levando-os a apelidar aquele cubículo de "prostíbulo do André".