Mesmo assim, posto na Vila, os aplicativos não funcionaram e, não querendo ser indelicado para com o motorista da oficina que fora orientado apenas a deixar-me na vila, pedi-lhe que me deixasse na praça de taxis colectivos. Assim, meti-me num dos que fazem o trajecto Vila de Cacuaco–Desvio do Zango.
Éramos quinze passageiros. Uns foram ficando pelo caminho, outros entraram e preencheram as vagas deixadas. Aos quinze, juntavam-se o chauffeur e o cobrador. Fazia tempo que não me aventurava em deslocações como esta. Não sabia quanto se pagava pela corrida — curta ou longa — como a que estava a fazer. A viagem decorreu ao som de músicas de Socorro e Baló Januário, em volume aceitável para a minha idade — pós-cinquenta.
Os meus co-passageiros eram jovens: homens e mulheres. Uns, via-se, faziam negócios precários, mas lutam pela vida sem pôr mão em coisa alheia. Um é pintor. Tinha os cotovelos e o telefone pintados de branco. Outros, poucos, eram adventistas do sétimo dia, a caminho das confissões religiosas ou de regresso a casa. Eu era o mais velho e com trajes que, mesmo sendo calças de ganga, ténis e camisa normais, pareciam denunciar-me como “intruso” desabituado àquela vida.
A minha paragem foi na ponte do Km 25, ao preço de Kz 500.
Já no viaduto do Km 25 — que a criatividade popular baptizou por “Ponte do 25” — um dos aplicativos funcionou. Aleluia! Levei, porém, mais de vinte minutos para que o mui pretendido taxi particular chegasse. Primeiro, uma demora de oito minutos levou ao cancelamento. Quando voltei a solicitar, eis que o mais próximo era o anterior, obrigando-me a aguardar nada menos do que um terço de hora sob o sol escaldante que se aproximava do meio-dia.
Esta viagem serviu-me, maisnuma vez, de medida. Uma medida da distância dada na vida. De onde saí e onde estou socialmente. E tudo isso foi obra da formação académica, da formação profissional, do trabalho honesto e da lealdade. Haveria como sentir estranheza num taxi colectivo se, acaso, não me tivesse formado? Se, embora trabalhando por conta de outrem, não auferisse um salário que dá para comer trinta dias e fazer pequenas poupanças que levam a ter carro?
A resposta é redondamente não.
Daí o apelo renovado àqueles que ainda vegetam na ociosidade, na torpência e na falácia de que “não há crescimento possível no país”. Lutem. Não adormeçam debaixo da sombra plantada por outrem. A ascensão é possível. Mas exige acção, coragem e persistência.
Aos que governam, pede-se que tirem duas horas por mês ou trimestre e andem pelos subúrbios. Experimentem um taxi particular e depois um taxi colectivo. Sintam, em poucos instantes, o “dias sempre” dos governados. Se calhar isso crie maior empatia, pois cada um dos que o povo colocou em cima tem sempre um exército — directo ou indirecto — de plebeus que vivem a vida árdua e verdadeira dos governados.

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