quinta-feira, 1 de maio de 2014

A TUTELA DOS SOBREVIVOS


(Conto adaptado)
 
Um homem de negócios, com três irmãos mais novos, casado e pai de quatro filhos, morre num acidente de aviação.

Kexi Jina era a figura mais influente da sua família e comunidade. Sempre velou pela harmonização familiar e educação dos seus. Os seus filhos: Lamba, Maka, Vitangi e Neso frequentavam as melhores escolas, juntamente com seus primos.

Preocupados com a educação de seus quatro sobrinhos, Mukwasenu, Mucinenu e Mukwatenu, os irmãos do finado, reuniram-se para acertar como proporcionar uma educação aceitável dos meninos órfãos.

Chegados à casa de Kexi Jina, o finado, e junto da viúva, Mukwasenu anunciou que ficaria com os sobrinhos Lamba e Neso. Mucinenu não mugiu nem tugiu. Dele apenas se ouviu silêncio.

Mukwatenu, o irmão caçula, embora estivesse ainda a formar-se e sem vida estável ou estruturada, decidiu tomar Vitangi como sua protegida.

- Manos, não vejo outra solução senão levar a sobrinha Vitangi para minha casa e crescermos juntos. Onde eu comer, onde eu dormir e onde eu tirar para estudar ela também usufruirá, pois este foi o sonho do nosso finado irmão, ter os filhos e os sobrinhos todos formados. - Disse, ao que Mukwasenu, irmão mais velho, concordou e elogiou.

De Mucinenu, irmão intermédio, nada se ouvia. Maka estaria condenada a ficar com a mãe que já decidira voltar ao Congo Democrático, sua terra de procedência.

Perante tal situação e quanto o irmão mais velho fazia as contas e já bastante chateado pela falta de atitude de Mucinenu, Mukwatenu voltou a anunciar:

- Já que para o mano "Muci" não abre a boca, levo também a "Kamaka" juntamente com Vitangi e assim a cunhada fica mais aliviada. Vamos dar a educação familiar e a formação que o mano Kexi Jina sempre desejou para seus filhos e sobrinhos. - Rematou, ganhando uma salva de palma por parte de Sambukila, a viúva, e do irmão Mukwasenu.

No seu canto, cachimbo na boca e boina ligeiramente inclinada, a cobrir-lhe parte do rosto, Mucinenu parecia distante daquele cenário. Não tinha emitido sequer uma opinião. Quando todos os dois manos se preparavam para se despedir e anunciar os dias em que voltariam para levar os sobrinhos, Mucinenu pediu a palavra.

- Alto ai! Um momento. Também quero falar.

- Falar o quê, se quando devias ter tomado decisão não o fizeste e forçaste o nosso irmão caçula a assumir uma responsabilidade para a qual não está preparado? Não tens direito a palavra e não amasses a nossa paciência. - Repreeendeu Mukwasenu, o mais velho entre os três.

- Não, mano, por favor. Deixe-me falar, suplicou Mucinenu.

- Mano vamos ouvir o que ele vai falar. Mesmo sabendo que nada alterará o que já aqui foi decidido. Só espero que não venham poucas vergonhas dessa boca. - Ironizou Mukwatenu.

- Ok. Vocês se dividiram os sobrinhos. Tudo bem, eu concordo. E quem vai ficar com a viúva? Deixaram-na para mim? Se é isso que vocês pretendiam, eu aceito e fico com ela!

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