quarta-feira, 1 de junho de 2016

CUANDO CUBANGO: TERRA QUENTE




No dia 17 de Fevereiro, a temperatura máxima foi de 34 graus. Há alguns anos eram as bazucas e o tri-tri-tri das kalashenikovs mortíferas que aqueciam as "terras do fim do mundo", hoje rebaptizadas por "terras do progresso" que é visível nos rostos das pessoas e nas margens das estradas onde despontam novos edifícios construídos de raiz e outros coloniais que depois de estropiados, beneficiaram de restauro e ou ampliação.

Onde haja muita utilização de cimento, ferro, pedra, areia e tinta há crescimento. Governo e particulares vão fazendo a sua parte. O primeiro investe na habitação e instalações para prestar serviços básicos como educação, saúde e água, ao passo que os cidadãos com algum capital financeiro vão igualmente investindo em serviços e comércio. As ruas largas de Menongue estão semaforizadas e o Cuebe "assiste" apressado a sua ponte histórica em reparação. O palácio do governador confirmou o nome e uma nova cidade se ergue na saída para a comuna de Caiundo.
Dizia-se no tempo da guerra pós-independência que em Caiundo só havia porta de entrada e não a de saída. Aqui, na província do KK, a rebelião tinha a sua base central, Njamba, e os sul-africanos de aparthaid que apoiavam os insurrectos não se cansavam de despejar bombas, medo e terror sobre os angolanos. Basta ver, aí onde a simples reparação não atende, como ficaram os imóveis bombardeados ou dinamitados.
Um ex-Fapla do Ebo dizia mesmo:
"Em Caiundo, fomos e voltamos. Não brinca. Eu e o comandante Kuluzele (Cruz), AK nas costas e pistola silenciosa na mão, só pólvora e 'candáver'. Vai lá se regressas seu mabeco"...
Felizmente, são estórias do passado que ficam para a história. Hoje, a preocupação é outra. É atrair cérebros enquanto se vão formando homens e mulheres locais nos vários institutos médios e na nova universidade pública criada para Cuando Cubango e Cunene. É trazer tudo o que haja de melhor para essas terras que não devem nada às outras regiões angolanas afastadas do Litoral. A pequena indústria vai engatinhando e com a reabilitação do Caminho-de-Ferro do Namibe, reconstrução e construção de novas rodovias, os turistas e empreendedores vão chegando dia sim, semana também.
Eis-me na continuação da EN 140 que vai de Menongue ao Caiundo.
Redijo este apontamento no espaço em que o governo publicita a construção de mil residências sociais. A empreitada ainda não está terminada mas há já casas concluídas e habitadas, umas em acabamentos e outras em início de construção.

 

 Antes que me esqueça, um puxão às orelhas dos condutores imprudentes. As estradas são para a vida, para delas desfrutarmos os benefícios da paz e não para a morte.

Desafiem as estradas mas nunca a vida que é única. Há muito país por ser descoberto sobre rodas.
Não gostei de ver a forma como ficou o Toyota corolla (nas imagens) que trafegava no trajecto Menongue-Cuito Cuanavale e que ceifou quatro vidas. Contaram-me que "uma camioneta Mitsubish Canter que ia a frente do corolla preparava-se para virar a esquerda, tendo o turismo ido ao seu encontro".

 Ali mesmo, tufas. Nem só um "ai ué". - Contaram os testemunhas oculares que removiam os restos da viatura.
Depois do estrondo, apenas um silêncio total. Foi a 19 de Fevereiro 2015.
E como na estrada nem tudo é tristeza, mostro as imagens do campo relvado da comuna do Longa, município do Cuito Cuanavale, a meio caminho entre a histórica vila e a cidade capital do Kwangu nyi Kuvangu.

 

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