Osábado tinha sido de revista habitual às infraestruturas. Aliás, em sua casa é assim. Sábado é dia de ver paredes com
fissuras, árvores por podar ou a secar, torneiras avariadas,
tomadas deslocadas, lâmpadas fundidas e chapas furadas. Feito
isso, sai-se para visita às casas da mãe e da sogra que são, na
verdade, obras inacabadas, a que se junta a Kam&mesa. É por
isso que o dia de descanso bíblico foi baptizado como o dia das
infras.
Para piorar o cansaço, Katemo tinha trabalho com o patrão ao
domingo, numa jornada que tinha princípio mas sem data do fim.
Era já duas da tarde. Corpo a doer e estômago com martelos a
bater-se entre si, quando Katemo foi liberado do trabalho, na
baixa de Luanda.
Até à casa, levava hora e meia. Pelo caminho deu boleia a um
convidado que estava sem carro e foi ver um dikota que lhe
prometera katula mbinza.
O transito até estava bom. A abertura das praias, na pausa da
covid-19, tinha levado meio mundo ao mar, em semana de água rara
e sol ardente. A chuva só ameaçava mas cair de verdade, nada!
Katemo, dirigido pelo google, chegou ao destino indicado pelo
kota do katula mbinza. Encontrou a família, um amigo comum e fez
nova amizade. Afinal kapuka das ponteiras sempre arrastou amigos
ao alambique e continua a fazer novos amigos até mesmo em
cidades grandes como a capitalíssima.
Entre um dedo de conversa e uma pinga, aproveitou comer. Estava
a paz feita com a moagem estomacal que o empurrava ao encontro
do funji domingueiro. Contou-se a cena de um bêbado que não
estava bêbado e os seis convivas entraram em gargalhadas. O
campo, as relações de proximidade e benfeitorias, bem como o
descaso dos endinheirados também desfilaram entre garfadas e
goles fortes de vinho da estranja e kapuka canelada da banda.
Quando o sol já se curvava, em vênia ao Atlântico, Katemo
despediu-se, saindo zunado. Na corrida do Suv, as duas garrafas
de katula mbinza tilintavam ruidosas no assento traseiro,
fazendo temer um desastre. Olhou à frente. Havia ainda muito
xingilamento. Acostou, diante de uma propriedade bem cuidada e
guarnecida, para separar as garrafas se se digladiavam
violentamente, agitadas pelos saltos que se revezavam intensos.
Sem saber que as litigantes se haviam separado, abriu a porta,
escapando-lhe a que abandonara o assento.
- Buá! - Lá se foi, para a sua tristeza, a garrafa de um litro
de primeira gota, destilada em Kambaw e envelhecida no Nova
Vida.
Veio-lhe à memória a estória do "magnata" que, portando uma
vasilha semelhante de katula mbinza, envolveu-se em um acidente
que levou à destruição da garrafa. Os primeiros que o socorreram
deram-no por bêbado, mesmo não tendo tomado naquele dia, pois,
chamados pela curiosidade, foram brindados com um altivo e
gostoso odor que saia libertado do carro danificado.
Posto na polícia de trânsito, onde o proprietário da outra
viatura fez questão de exigir que fosse soprar o bafômetro,
ficou conhecido como o bêbado que não bebeu.
- Como xtá, senhor Doutor bêbado que não bebe?! - Saudam-no
hoje assim.
Obs: publicado pelo Jornal Cultura de 13.04.2022
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