Caros confrades (escritores),
Parentes e amigos do Dr. Domingos
Kajama,
Minhas senhoras e meus senhores!
Façamos uma vênia especial a
todos meninos presentes.
Permitam-me agradecer ao autor, Dr.
Domingos Kajama, por me ter confiado a missão de falar aos ilustres presentes
sobre o seu livro.
Até hoje ainda me pergunto, por que me terá recaído essa missão,
existindo nessa imensa floresta de literatos mentes conhecedoras e criativas
que dão vida a penas escorreitas (Soberano Kanyanga é ainda uma criança a
tentar engatinhar).
Quando em Maio deste ano, o Dr.
Kajama me contactou para prefaciar o livro que temos em presença, dando-me nada mais do que duas semanas, fiz-lhe
a seguinte pergunta:
- Porquê eu?
- És tu porque gostas da Lunda,
teus escritos trazem a Lunda e és, por essa razão, um mwana Kacokwe!
- Ewa tata, nguna sakwila cinji. Yami nguli kacokwe! – Respondi,
aceitando a missão.
À medida que fui lendo, fomos trocando
impressões, alertando para pequenas gralhas no texto inicial, ou discutindo,
por exemplo, por que razão apresentava o título “O diamante e suas
consequências”?
Quando o título evoluiu para “DE
SAULIMBO A SAURIMO”, apresentava um acento grave sobre A, o que nos levou a novo
debate até à e retirada do sinal diacrítico. Também analisamos por que não escrevia segundo o que dita a Resolução 3/87 de 23 de Maio,
do Conselho de Ministros, sobre o alfabeto da Ucokwe e respectivas regras de
transcrição (só para particularizar essa língua).
E, tal como eu fui anotando os
conhecimentos que o livro acrescentava aos meus dez anos intensos de vida e
trabalho na Lunda, o Dr. Kajama também foi tomando notas e respondendo ao que
lhe colocava. Encontrei em Kajama um pai, com muito para ensinar e aberto a
somar aos seus largos conhecimentos o que é necessário agregar.
O livro está estruturado em dez
capítulos em que se aborda, nomeadamente:
1- O
percurso dos colonizadores portugueses, a ocupação do império Lunda e
denominação da antiga sede do Distrito da Lunda;
2- A vida
sociocultural, económica e política dos habitantes do antigo Império Lunda;
3- A chegada
dos portugueses a Saulhimbo e impacto na vida política, económica e
sociocultural dos nativos;
4- A
descoberta do diamante e suas consequências;
5- Contribuição
da Diamang no desenvolvimento económico e sociocultural do então Distrito da
Lunda;
6- A elevação
da vila Henrique de Carvalho à categoria de cidade;
7- O papel
determinante dos Movimentos de Libertação Nacional;
8- A
independência de Angola e as transformações políticas, económicas e
socioculturais;
9- Notas
Conclusivas
10-
Provérbios, parábolas e anedotário (Cokwe).
Em
todo o livro, Domingos Kajama pregoa o despertar do homem do Leste angolano,
cuja aculturação, subjugação psico-social e política do então colonizador
adormeceu o seu “eu”. Esse livro é um despertador que o leva ao passado
histórico (pré-colonial), recordando-lhe a essência angolana e africana do povo
que habita a região da Lunda. Em todas as páginas do “De
Saulhimbo a Saurimo: Contributos para a história social, cultural e política da
Lunda”, Kajama parece falar em vez de escrever, ou
melhor, escreve como se estivesse a contar as suas memórias/vivências: o que
ouviu, o que leu, o que viveu e o que pensa, apresentando-nos um texto
escorreito e convidativo, repleto de imagens, sons e ruídos (das águas, folhas
e do vento) que também nos trazem mensagens.
Bem, não falarei mais sobre o
prefácio que muitos já terão lido e outros vão ler. Vou reforçar o pedido que
tenho feito aos mais velhos: registem os
vossos conhecimentos, as vossas experiências, tirem da cabeça e passem ao
papel. Mesmo quando a mão não obedece, há sempre um sobrinho ou neto para
gravar e converter em texto. O resto vem por arrasto.
Quanto a isso, o Dr. Domingos Kajama
fez, e com a mestria e qualidade requeridas, a sua parte. Cumpriu com um dever de homem do seu tempo e
de sua dimensão política e intelectual. Muito obrigado, Dr. Kajama, e parabéns!
É, em suma,
um livro que nos faz viajar no espaço e no tempo, apontando-nos caminhos lestos
para um reencontro com a nossa identidade.
Muito obrigado!
Soberano Kanyanga, UEA, 04.08.2022
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